O Globo, Opiniao, p.7
18 de Fev de 2005
Ilusão amazônica
Grilagem de terras, desflorestamento e conflitos violentos, freqüentemente com mortes, são comuns em regiões do campo brasileiro, especialmente na Amazônia. Mas foi preciso o choque do assassinato da missionária Dorothy Stang, seguido de outras mortes, para que o governo tomasse a decisão enérgica de enviar tropas do Exército para fazer policiamento ostensivo e desarmar fazendeiros, posseiros e trabalhadores rurais.
A medida é justa. Mas não deveria ser sempre preciso que ocorram episódios de grande repercussão no caso, até mesmo na imprensa internacional para que as autoridades ajam, adotando providências como que em espasmos, em lugar de implantar a política permanente que o problema está a exigir.
Porque a base de toda essa violência, a questão fundiária, precisa ser enfrentada de uma vez por todas, com um programa realista e de grande amplitude. Medidas excepcionais devem ser adotadas em situações excepcionais: é um óbvio equívoco supor que se alcançará a pacificação da Amazônia por meio do patrulhamento a cargo das Forças Armadas, como se fosse possível policiar cada metro quadrado da maior floresta do mundo.
Subjacente à interminável disputa pela terra está a inexistência de um modelo a ser adotado para a exploração da Amazônia. Ambientalistas radicais pretendem defender a todo custo a floresta, como se fosse possível pôr sobre ela uma redoma, ou permitindo apenas uma forma primitiva de extrativismo enquanto a realidade que se verifica é muito distinta: desmatamento e queimadas persistem e seu ritmo se intensifica. Agora, a cada ano são destruídos 25 mil quilômetros quadrados da floresta.
A estratégia justa para enfrentar esse problema é a exploração racional e controlada dos recursos da Amazônia, com todos os cuidados de preservação e reflorestamento. É um desafio de imensas proporções e um programa de longuíssimo prazo; mas não há alternativa realista senão a omissão do poder público. Que mantém o terreno permanentemente fértil para os conflitos e o caminho aberto para a exploração clandestina, fora de controle e por isso mesmo intensamente destrutiva.
O Globo, 18/02/2005, Opinião, p.6
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.