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Ilhas de estabilidade

O Globo, Ciência, p. 26
03 de Set de 2013

Ilhas de estabilidade
Ameaçado pelo nível do mar, país quer erguer arquipélago flutuante

Renato Grandelle
renato.grandelle@oglobo.com.br

Uma das menores nações do mundo, as Ilhas Maldivas correm o risco de serem engolidas pelo Oceano Índico. Com elevação média de apenas 1,5 metro, o arquipélago viu o nível do mar subir 17 centímetros desde 1900, e o derretimento de geleiras nos polos aumentará este índice em, no mínimo, 5 centímetros até o fim deste século. Para evitar o sumiço do país, o governo local contratou a empresa holandesa Docklands International para construir diversas ilhas flutuantes. A edificação de duas está em estágio avançado. Uma abrigará 200 casas de luxo; outra, um campo de golfe. Espera-se que o investimento no esporte incremente o setor turístico.
Depois desta etapa, a Docklands vai se dedicar à construção de ilhas que receberão casas populares. O arquipélago tem hoje 393 mil habitantes, distribuídos em quase mil ilhas. O avanço do mar provoca migrações populacionais e perda de terras cultiváveis, comprometendo a economia local.
As ilhas projetadas pela Docklands serão ligadas ao fundo do mar por cabos e estacas telescópicas, que permitirão a elevação do arquipélago se ele for alvo de tsunamis ou tempestades severas. Na Holanda - um país cuja metade do território é abaixo do nível do mar -, a empresa construiu ilhas flutuantes que receberam casas e presídios.
Segundo a empresa holandesa, o impacto ambiental provocado pelos cabos instalados no fundo do mar será mínimo. As correntes oceânicas que passam pelo país não seriam afetadas.
Nas últimas décadas, o governo das Maldivas tentou, sem sucesso, conter o avanço do mar aumentando a área ocupada por areia e cascalho. O país apelou para que a comunidade internacional agisse contra seu desaparecimento. Em outubro de 2009, pouco antes da Conferência do Clima (COP 15), promovida pelas Nações Unidas, o então presidente Mohamed Nasheed realizou um encontro ministerial debaixo d'água, mas a iniciativa não trouxe investimentos significativos para as ilhas.
Novos alertas para evacuação
Além das Maldivas, outros pequenos países insulares procuram meios de sobrevivência. Na semana passada, o governo de Tuvalu, na Polinésia, fechou um acordo para receber, nos próximos quatro anos, US$ 4,2 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), uma organização administrada pelo Banco Mundial, entre outras instituições. Os recursos serão aplicados na pesca costeira - uma atividade econômica que, com a maior ocorrência de eventos extremos, tem registrado uma perda significativa em produtividade.
O monitoramento dos impactos do clima também receberá doações do GEF. Com isso, o governo de Tuvalu pretende melhorar a comunicação em tempo real entre as ilhas, divulgando alertas para eventos extremos, além de criar novas instalações para evacuação.
Retirada de toda a população
Hoje, 15 países do Oceano Pacífico, entre eles Austrália e Nova Zelândia, iniciam quatro dias de negociações climáticas nas Ilhas Marshall, outra nação presente no rol das mais ameaçadas por eventos extremos.
Em um cenário pessimista, o governo local avalia a necessidade de retirar seus 55 mil moradores do arquipélago. Seria uma mudança radical mesmo para um país acostumado com migrações internas - a mais radical delas foi em 1946, quando os EUA escolheram um de seus atóis para testar bombas atômicas.
- Há um paralelo óbvio entre o perigo das mudanças climáticas e as ameaças de contaminação nuclear - acusou o vice-presidente das Ilhas Marshall, Tony de Brum, em uma entrevista coletiva. - Nós não temos nada a ver com estes eventos, mas é a nossa população que sofre.

O Globo, 03/09/2013, Ciência, p. 26

http://oglobo.globo.com/ciencia/ilhas-maldivas-querem-construir-arquipe…

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