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Igreja faz 'mea-culpa' por anos de dominação

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
18 de Fev de 2002

A Igreja Católica dedica a Campanha da Fraternidade de 2002 aos povos indígenas do Brasil. "Nada mais justo e merecido, pois além de serem os primeiros habitantes de nosso país, são os mais violentados pelas imposições dos colonizadores, do Estado e da Igreja", defende Roberto Liebgott, secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Quando os europeus desembarcaram nas terras que formariam o Brasil, estima-se que 5 milhões de indígenas em 900 povos viviam no território. A chegada dos portugueses foi para as etnias - que aqui viviam há mais 40 mil anos - o começo do processo de dizimação. Hoje existem no Brasil cerca de 235 povos indígenas, falando cerca de 185 línguas diferentes. A população é de 350 mil pessoas vivendo em áreas indígenas e 192 mil em periferias dos centros urbanos.

Com a escolha do tema, a Igreja Católica se propõe a resgatar os 500 anos em que a cultura indígena foi desrespeitada e a terra tomada. Trata-se de uma dívida histórica que passa pela imposição religiosa, escravização, políticas de integração, massacres sucessivos, assassinatos.

Em Florianópolis, o representante da CNBB, dom Vito Schlickmann, também admite a omissão da Igreja diante da dizimação dos índios brasileiros. "O tema 'Fraternidade e os povos indígenas' deveria ter sido proposto há mais tempo', disse. O dinheiro arrecadado durante a campanha será revertido para as aldeias.

Ainda na Quarta-Feira de Cinzas, em Brasília, dia do lançamento da campanha - que tem como slogan Terra sem Males-, o secretário-geral da CNBB, dom Raimundo Damasceno, fez uma espécie de mea-culpa. Com a campanha, a Igreja anuncia para todo o país uma mobilização de apoio à demarcação de terras e aprovação do estatuto dos povos indígenas.

Dos 756 territórios identificados, mais de 70% estão com processos de regularização paralisados. O governo não reconhece a existência de 178 dos territórios e 85% das terras foram invadidas para extração de garimpos, madeira, construção de barragens, estradas e grandes áreas agrícolas.

A procura da "terra sem males" é a busca da vida nova, de uma terra onde não haja dor, sofrimento ou morte. Uma terra livre e farta onde "jorre leite e mel".

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