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Igreja Católica faz mea culpa com índios

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Autor: José Luiz Medeiros
18 de Fev de 2002

Praia de Coroa Vermelha, 26 de abril de 1500. Momento histórico: está prestes a ser celebrada a primeira missa no Brasil, esse território desconhecido e exótico, povoado por pessoas de pele morena, que andam nuas, num cenário que lembra as descrições bíblicas do paraíso. E são justamente essas pessoas que olham, curiosas, a cerimônia religiosa. O padre, do alto do altar improvisado em meio ao cenário natural e exuberante dos trópicos, talvez incomodado pelo calor, olha para o aglomerado que acompanha, atento, rituais religiosos tão diferentes dos seus. De um lado e de outro, incertezas do que viria pela frente.

Cuiabá, 17 de fevereiro de 2002 - Toca o sino: hora de começar a missa que marca o lançamento da Campanha da Fraternidade. O tema: Fraternidade e os Povos Indígenas - Por uma terra sem males. Em diversas partes do país, fiéis se reúnem para discutir o assunto, que será objeto de reflexão no decorrer de todo o ano. Em alguns pontos, representantes dos povos indígenas dividem os bancos das igrejas com católicos. Na época da chegada dos primeiros portugueses em território brasileiro, os índios somavam algo entre 2 e 4 milhões de pessoas, divididas em cerca de mil povos. Hoje, 218 povos totalizam aproximadamente 350 mil indivíduos. No país todo, espalham-se cerca de 170 milhões de brasileiros. Os rituais que se desenrolam no decorrer da missa - vinho, hóstia, "paz de Cristo" - são muito diferentes daqueles que se vê nas aldeias. Mas, debaixo das cúpulas das construções católicas, alguns objetivos em comum: a discussão de questões como territorialidade, a definição do Estatuto das Sociedades Indígenas - ainda emperrado em Brasília - preconceitos e a eficiência das políticas públicas voltadas para o índio.

O texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano discute um tema que toca nas raízes da presença católica em território brasileiro: a questão indígena. A Igreja assume que representou um papel ambíguo no decorrer do processo histórico, já que a busca do poder impulsionou ações que deveriam ter a fé e a fraternidade como âncora. Do outro lado da moeda, o texto coloca que ela foi responsável por ações importantes para a proteção indígena.

O pano de fundo usado pela campanha é a fraternidade entre os povos. Relações não apenas entre brancos e índios - mas incluídos negros e migrantes - devem ser repensadas. E a hora, para os católicos, é agora.

O texto pontua alguns temas a serem pensados ao se falar da questão indígena. A comunidade católica terá até o final do ano para refletir e discutir saídas para aspectos como a posse da terra, o Estatuto das Sociedades Indígenas, políticas públicas voltadas para os índios e o preconceito - que aparecem como alguns dos principais objetivos da Campanha.

"É imprescindível a defesa da cultura, das riquezas naturais e das tradições das etnias brasileiras", defende o arcebispo de Cuiabá, Dom Bonifácio Picinini

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