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IDH alto esconde desigualdade, dizem especialistas

FSP, Brasil, p. A18
28 de Nov de 2007

IDH alto esconde desigualdade, dizem especialistas
Dados indicam evolução gradativa, mas desempenho é visto como oportunidade para acelerar melhorias dos indicadores sociais

Da sucursal do Rio

Para especialistas consultados pela Folha, a linha que separa países de alto desenvolvimento humano (IDH igual ou superior 0,800) é uma marca arbitrária que oculta, no caso brasileiro, a desigualdade.
O feito, no entanto, é uma oportunidade para acelerar a melhoria dos indicadores sociais caso o Brasil se compare apenas com os países que pertencem ao grupo do qual agora fazemos parte, com índices muito melhores que os nossos.
Para o ex-presidente do IBGE no governo FHC Simon Schwartzman, os dados indicam um processo de melhoria gradativa e de longo prazo.
"Vão dizer que "nunca antes na história deste país" o IDH esteve tão alto e que, finalmente, entramos para os países de "alto desenvolvimento", como se fosse mais um trunfo do governo Lula. Na verdade, a linha divisória entre o alto e o médio desenvolvimento é arbitrária e o Brasil, último da lista, tem à frente vários países latino-americanos. É um resultado medíocre, mas que será comemorado com grande fanfarra."
Kevin Watkins, diretor de desenvolvimento do Pnud, diz que a tendência de melhoria do Brasil é contínua ao longo do tempo, mas lembra que há países com PIB per capita menor que o brasileiro e que possuem resultados melhores em educação e saúde.
Como exemplo, ele cita o Vietnã, país cujo PIB per capita é bem menor do que o brasileiro (3.071 dólares, ante 8.402). O país asiático, no entanto, tem expectativa de vida de 73,7 anos (a do Brasil é de 71,7) e 90,3% de sua população adulta está alfabetizada (enquanto no Brasil, são 88,6%).
Flávio Comin, assessor do Pnud, lembra também que o IDH permite a comparação de rankings de desenvolvimento humano e do PIB per capita. No caso brasileiro, o país está três posições abaixo do que seu PIB permitiria, relação inversa a de outros países latino-americanos, como Cuba (43 posições acima), Uruguai (16 lugares), Chile (15), Argentina (nove) e México (sete).
"São países que deram mais prioridade à dimensão social. O Brasil já está fazendo o mesmo, mas é preciso acelerar", diz o assessor do Pnud.
Comin identificou no relatório cinco áreas em que o Brasil está muito defasado em relação aos demais países de alto desenvolvimento e que, por isso, podem apressar, no futuro, a melhoria do IDH: saneamento básico, pobreza, mortalidade infantil, mortalidade materna e desigualdade.
Ele cita como exemplo o fato de, entre os 20% mais pobres, a mortalidade na infância ser de, até cinco anos, 83 mortes por 1.000 nascidos vivos. Entre os 20% mais ricos, a relação é de 29 a cada 1.000.
"A mortalidade entre os mais pobres ainda segue um padrão africano. Nesse e em outros indicadores, ainda estamos muito distantes dos países de maior desenvolvimento humano, mas o fato de estarmos agora simbolicamente nesse grupo faz com que tenhamos obrigação de acelerar nosso progresso social", diz ele.
Na avaliação de Wanda Engel, ex-chefe da divisão de Desenvolvimento Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento e ex-secretária de Assistência Social do governo FHC, é preciso continuar investindo em políticas destinadas prioritariamente aos municípios com menor IDH e à população mais pobre.

Concentração de renda ainda é muito grande

Da sucursal do Rio

O Brasil permanece como um dos países mais desiguais do mundo, mas a queda de 2000 a 2005 no índice de Gini -que mede a concentração de renda- faz com que, aos poucos, o Brasil vá se afastando dos países que lideram esse ranking negativo.
Há cinco anos, quando o Pnud divulgou seu Relatório de Desenvolvimento Humano de 2002 -com dados até o ano de 2000-, o Brasil tinha um indicador de desigualdade de renda inferior apenas ao de cinco países africanos.
O índice de Gini em 2000 estava em 0,607. Cinco anos depois, caiu para 0,570 -quanto mais próximo de 1, mais desigual. Foi uma redução tímida, mas suficiente para o país perder cinco posições no ranking. Hoje, países como Namíbia, África do Sul, Bolívia e Haiti apresentam padrão de concentração de renda pior do que o brasileiro.
Mas, se forem comparados apenas as nações de alto desenvolvimento humano, o país apresenta a maior desigualdade medida pelo índice de Gini. O país menos desigual é o Japão (índice 0,249).
Na avaliação de Kevin Watkins, diretor do escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, a tendência de queda da desigualdade brasileira é robusta e isso tem tido impacto também na redução da pobreza.
"O país está se movendo na direção certa, mas ainda há um longo caminho a percorrer", diz Watkins.

Trechos

"As transferências monetárias condicionais (CCTs) podem desempenhar importante papel na quebra da ligação entre risco e vulnerabilidade. O Bolsa Família, um dos maiores esquemas CCT, demonstra que isso é possível. Inicialmente para diminuir trabalho infantil, a CCT do Brasil subiu dramaticamente entre 2001 e 2003"

Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU

"O Bolsa Família é responsável por quase um quarto da recente queda abrupta na desigualdade no Brasil e por 16% de seu declínio na pobreza extrema. Uma das razões pelas quais o funcionou no Brasil é porque foi implementado através de um sistema político descentralizado, mas com forte apoio federal em termos de definição de regras"

Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU

FSP, 28/11/2007, Brasil, p. A18

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