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ICMBio vistoria cavernas em Santa Catarina

ICMBIo - www.icmbio.gov.br
Autor: Carlos Oliveira
02 de Jul de 2009

Na última semana de junho, especialistas do Instituto Chico Mendes (ICMBio) que são integrantes do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas (Cecav), estiveram no Parque Nacional (Parna) da Serra do Itajaí, em Santa Catarina, para algumas expedições na região. Esta é a primeira vez, desde a criação do parque, que o Cecav faz vistorias no interior da Unidade de Conservação (UC). Mas desde 1997 o órgão participa do processo de regularização do uso turístico da Gruta Botuverá, localizada no Parque Municipal das Grutas de Botuverá, bem pertinho do Parna do Itajaí.

A princípio, os analistas ambientais do ICMBio José Carlos Ribeiro Reino e Cristiano Fernandes Ferreira foram atender a uma solicitação da Prefeitura de Botuverá, que havia pedido suporte para desenvolver medidas adequadas de exploração turística da gruta. Como o chefe do Parna, Fábio Faraco, também havia pedido vistoria, após a execução dos trabalhos no município vizinho, os analistas do Cecav partiram para as observações no Abismo de Areia Alta, uma caverna que fica dentro da UC.

De acordo com José Carlos, a visita ao local permitiu confirmar algumas informações já existentes sobre a cavidade, inclusive sobre a importância no contexto espeleológico regional, ou seja, formação, constituição, características físicas, formas de vida e evolução temporal. "O abismo é o maior desnível cadastrado no Estado de Santa Catarina, com 77 metros de desnível", assinala.

Do ponto de vista científico, informa o analista ambiental, o local possui potencial para pesquisa em bioespeleologia, "pois, além da presença de fezes de morcegos (guano), que na grande maioria das cavernas é a principal fonte de matéria orgânica para os animais cavernícolas, sendo a base da cadeia alimentar, recebe significativo aporte de matéria orgânica vegetal juntamente com sedimentos terrígenos." Outra característica do Abismo de Areia Alta é o potencial para o desenvolvimento de pesquisas paleontológicas, "inclusive já tendo sido descoberto no seu interior um fóssil em excelentes condições, aparentemente de um mamífero de médio porte - Tayassu," detalha.

A riqueza natural dessa cavidade é impressionante e parte da harmonia ambiental externa também. "As informações já coletadas sobre o local indicam a existência de um pequeno curso de água em seu interior. Apesar de não observamos a sua presença durante a vistoria, verificamos indícios que comprovam a sazonalidade do mesmo, a exemplo do sumidouro encontrado na parte inferior do abismo, por onde escoa a água proveniente de cotas mais elevadas da caverna," conta José Carlos Reino. Nesse tipo de ambiente, diz ele, a água contribui sobremaneira para a proliferação de vida.

Os dados ainda apontam a existência de uma pequena ravina (um processo erosivo causado pelo escoamento de água) na encosta externa e que serve de ressurgência temporária para o curso d\'água existente lá. Essa nuance indica, ressalta o especialista, aporte hídrico temporário a uma ampla várzea e a um córrego localizado à 100 metros de desnível da boca da entrada. "As informações sobre a importância hídrica da caverna devem ser salientadas, uma vez que impactos gerados a cavidade podem repercutir no regime hídrico local," pondera.

SEGURANÇA - Por ser a primeira incursão do pessoal do Cecav ao local, foi necessário suporte especial. Afinal, entrar em um abismo desconhecido é uma grande aventura até mesmo para pesquisadores acostumados a esse tipo de ambiente. "Entrar em uma caverna exige muita atenção e cuidados com a segurança das pessoas envolvidas. Há diversos tipos de riscos," explica José Carlos Reino. Segundo ele, todas as atividades são previamente planejadas, sobretudo do ponto de vista da segurança.

José Carlos destaca que a utilização de equipamentos adequados, seguros e suficientes é uma premissa, assim como a presença de pessoal capacitado e em condições físicas de operar toda a parafernália. É por isso que lá no abismo a dupla de analistas contou com o apoio do Corpo de Bombeiros Voluntários de Indaial, que cuidou da segurança e técnicas verticais de descida e ascensão, inclusive cedendo o equipamento apropriado.

Ainda tem a especificidade da proteção individual dos desbravadores, pois há vários riscos nesse tipo de trabalho. "O uso de roupas (macacões) e calçados (botas) adequados previne contratempos. Por se tratar de um ambiente com iluminação reduzida ou ausente, é fundamental o uso de luz artificial, em proporção e autonomia condizentes com o objetivo da expedição. Tanto as roupas, quanto a iluminação contribuem para diminuir outro tipo de risco, o de contato acidental com animais peçonhentos," explica.

Com todos esses cuidados, as investigações de locais como esses são fundamentais para conservação e sustentabilidade. No caso do Abismo de Areia Alta, conforme Reino, os relatórios formarão parte da base para o plano de manejo do Parque Nacional Serra do Itajaí. "As informações que levantamos acerca das potencialidades da caverna vai contribuir muito para esse processo (turismo de aventura, estudos e proteção). O Cecav pode apoiar pesquisas futuras mais específicas, contribuindo com pessoal especializado, inclusive para o aprimoramento do encarte de espeleologia do plano," adianta.

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