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Ibope: Para maioria esmagadora de brasileiros, proteger meio ambiente é prioridade

O Globo, Sociedade, p. 10
05 de Fev de 2021

Ibope: Para maioria esmagadora de brasileiros, proteger meio ambiente é prioridade

Pesquisa indica que 77% dos entrevistados defende conservação do verde mesmo que signifique menos crescimento econômico e geração de empregos

Raphaela Ramos

RIO - Para a maioria dos brasileiros (77%), proteger o meio ambiente é prioridade, mesmo que signifique menos crescimento economico e geração de empregos. A população também está preocupada com o aquecimento global e o impacto das queimadas nos biomas do país. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Ibope sobre a percepção das questões ambientais.

O estudo foi encomendado pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) em parceria com o Programa de Comunicação de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale. Foram entrevistados, por telefone, 2,6 mil brasileiros com mais de 18 anos de todas as regiões do país, com diferentes níveis de escolaridade e renda, entre setembro e outubro de 2020.

Segundo a pesquisa, quase todos os brasileiros reconhecem que o aquecimento global está acontecendo (92%) e que já pode prejudicar muito a si e a suas famílias (72%). Além disso, 88% acreditam que pode afetar as gerações futuras.

A percepção sobre os impactos das queimadas no país também foi analisada. Quase todos entrevistados (90%) concordam que os incêndios na Amazonia sa~o uma ameaça para o clima e o meio ambiente do planeta e acreditam que elas prejudicam a qualidade de vida da populaça~o (92%). Para quatro em cada cinco brasileiros, eles impactam a imagem do país no exterior, e 78% entendem que podem dificultar também as relações comerciais com outros paises.

- A pesquisa mostra que o brasileiro se preocupa com o meio ambiente e as mudanças climáticas, inclusive pessoas que têm pouco acesso à internet, mesmo em proporção menor. O brasileiro está em consonância com a percepção sobre o tema no mundo. Os resultados são contraditórios com o cenário de negacionismo que vivemos no Brasil, mas acredito que a importância que está sendo dada pela população vai em algum momento invadir o mundo da política - afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em coletiva nesta quinta-feira.

Apenas 25% dos entrevistados no estudo dizem saber muito sobre aquecimento global ou mudanças climáticas, e esse conhecimento está bastante associado à escolaridade e ao acesso à internet.

A importância dada a essas questões é maior entre os mais jovens e os mais escolarizados. Além disso, as mulheres e os mais à esquerda no espectro político são os que declaram maior preocupação com o meio ambiente. Não foram observadas grandes diferenças entre as regiões do país.

Causas e responsáveis
Para 77% dos entrevistados, o aquecimento global é provocado principalmente pela ação humana. Os brasileiros acreditam que quem pode contribuir mais para resolver o problema das mudanças climáticas são os governos, seguidos pelas empresas e indústrias e depois os cidadãos.

A ação humana também é considerada a principal causa das queimadas na Amazônia por 77% dos brasileiros. Os mais citados como responsáveis por elas foram os madeireiros. Em seguida estão agricultores, pecuaristas e garimpeiros. Mais da metade dos entrevistados avalia que quem mais pode contribuir para solucionar o problema são os governos, seguidos pelos cidadãos, e as empresas e indústrias.

Voto e consumo com consciência ambiental
Segundo a pesquisa, quase metade dos brasileiros (42%) declarou já ter votado em algum politico em raza~o de suas propostas para defesa ambiental e mais da metade (59%) deixou de comprar ou usar algum produto que prejudique o meio ambiente. Na avaliação de Astrini, o mercado brasileiro já sente que essa questão faz parte dos negócios.

- Pesquisas como essa servem para levantar um sinal de alerta para que os governantes se preocupem mais com essa questão. É um caminho sem volta, mais presente nos negócios hoje, e que vai ficando cada vez mais forte também na área política - afirma.

Brasil x EUA
Segundo Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale, os dados mostram que os brasileiros são muito mais envolvidos com o tema das mudanças climáticas do que os norte-americanos.

- O estudo mostrou que 92% dos brasileiros entendem que o aquecimento global está acontecendo. Nos Estados Unidos, esse percentual é de apenas 73%, uma grande diferença. Os brasileiros também entendem mais que ele está acontecendo por ações humanas e estão mais preocupados. Um dos fatores que ajuda a explicar essas diferenças é a política. Essas questões não estão polarizadas no Brasil como é nos EUA, apesar de diferenças entre direita e esquerda. Os brasileiros consideram esse um problema sério e querem mais ações - avalia.

O diretor aponta a priorização da preocupação ambiental como uma semelhança entre os dois países, assim como os recortes populacionais mais preocupados com o tema, e o desejo de aprender mais sobre ele. Ele afirma que o movimento de crescimento da preocupação ambiental está acontecendo no mundo todo.

- Nos Estados Unidos, apesar de não estarem tão preocupados, esse já é um fator que teve impacto enorme nas eleições, assim como na Europa, na Austrália, e em outros países, e o Brasil pode ser o próximo. Esses dados mostram que há potencial para um movimento poderoso entre partidos e sociedade sobre as mudanças climáticas. O mundo observa o Brasil como um país central para essa questão. A escolha é se o Brasil quer se tornar um líder nessa mudança, ou vai tentar brigar contra ela, se isolando - completa Leiserowitz.

O Globo, 05/02/2021, Sociedade, p. 10

https://oglobo.globo.com/sociedade/um-so-planeta/ibope-para-maioria-esm…

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