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Ibama vai cortar na propria carne, diz Marina Silva

OESP, Nacional, p.A7
06 de Jun de 2005

Ibama vai 'cortar na própria carne', diz Marina Silva
Ministra promete que envolvimento de políticos do PT não impedirá investigações

Gerusa Marques
Colaborou: Gilse Guedes

Em um discurso duro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou ontem que a apuração do esquema de corrupção envolvendo funcionários do Ibama, políticos do PT mato-grossense e madeireiras será apurado até o fim, ainda que isso signifique "cortar a própria carne" do governo e do PT. Ela disse que a Operação Curupira, deflagrada na semana passada pela Polícia Federal, "cortou a cabeça" do esquema de extração ilegal de madeira, mas deixou claro não ter ilusões que o problema esteja resolvido.
Marina comparou o esquema à Hidra de Lerna - na mitologia grega, uma serpente de nove cabeças com quem Hércules se bateu. A cada cabeça decepada pelo herói, nasciam mais duas.
O presidente nacional do PT, José Genoino, informou que serão abertos processos internos para expulsar do partido os políticos envolvidos no esquema. "Não vamos defender o patrimônio da pureza. Não estou dizendo que todos (petistas) são puros. Por isso, o PT parte para a ofensiva e combate a corrupção. Vamos aplicar o estatuto do partido", afirmou.
Contemplação
"Não há nenhum tipo de contemplação", disse a ministra, durante as comemorações do Dia do Meio Ambiente no Parque da Cidade, em Brasília.
Na Operação Curupira, 40 funcionários de carreira foram afastados e 21 deles ocupavam cargos de confiança ao longo de vários governos. Mas entre as pessoas presas estavam integrantes do PT, como o ex-gerente-executivo do Ibama em Mato Grosso, Hugo José Werle, que arrecadaria verbas junto a madeireiras para a campanha do candidato do PT à prefeitura de Cuiabá em 2004, Alexandre Cesar.
"A minha responsabilidade como ministra do Meio Ambiente era de extirpar o tumor, em quem quer que seja. A responsabilidade de punir essas pessoas fica a cargo do PT de Mato Grosso", afirmou. Marina fez questão de enfatizar que tomou medidas contra a corrupção agindo como ministra e não representando o Partido dos Trabalhadores, ao qual é filiada. "Eu sou uma ministra de Estado e fiz o meu dever. Os dirigentes partidários saberão fazer o seu."
Segundo ela, o PT não tem medo de ir a fundo no combate à corrupção. "O PT fez isso por dentro da administração pública e tenho certeza de que fará isso no Mato Grosso dentro da estrutura partidária." Marina disse ainda que é o mau caráter, e não os partidos, que faz com que as pessoas sejam corruptas. "Existem pessoas honestas no PT, no PSDB e em todos os partidos", afirmou.
A ministra defendeu o financiamento público de campanhas eleitorais como forma de acabar com as contribuições de empresas para as eleições de políticos, mas lamentou que o projeto esteja parado há tantos anos no Congresso.
O Secretário de Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Gilney Vianna, ex-deputado federal pelo PT de Mato Grosso, também defende o financiamento público. Ele disse que, como ambientalista, sempre evitou contribuições de madeireiras, mas reconheceu que, no Estado, quando uma campanha atinge proporções maiores, como uma eleição para prefeito, é praticamente inevitável captar recursos de empresas que extraem madeira.
Vianna disse duvidar que Alexandre Cesar tenha recebido dinheiro de madeireiras, mas afirmou que já há algum tempo pesavam desconfianças sobre Hugo Werle. "Hoje ele está preso", comentou. "É uma pena, pois era alguém nosso agindo contra a política ambiental."
Predatórias
"Tenho absoluta certeza de que esse sistema criminoso, que funcionava há mais de 14 anos, agora teve a sua cabeça cortada", avaliou Marina Silva. "Mas nós sabemos que, quando você machuca a cabeça da serpente, ela balança o rabo violentamente." As pressões contrárias à investigação, porém, serão rechaçadas, segundo prometeu a ministra. "Eu nunca me iludo com a primeira cabeça (da Hidra)."
A ministra disse que o desmatamento na Amazônia não é resultado apenas da corrupção e que tem de ser avaliado como um sistema criminoso que opera prejudicando aqueles que querem desenvolver as atividades produtivas sustentáveis. "Existe uma concepção de que a Amazônia é um espaço onde pode se fazer o que bem entende. É essa concepção que sustenta o sistema de corrupção e de atividades predatórias."

OESP, 06/06/2005, p. A7

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