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Ibama autoriza plantio de feijão transgênico

OESP, Geral, p. A12
12 de Mar de 2004

Ibama autoriza plantio de feijão transgênico
Embrapa recebe hoje permissão para testes de campo com grãos resistentes a um vírus

RUTH HELENA BELLINGHINI

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recebe hoje do Ibama a autorização para iniciar os testes de campo do feijão transgênico resistente ao vírus do mosaico dourado. Detalhe: se ele não for plantado até segunda-feira, a empresa perde a chance de fazer sua pesquisa este ano. Por meio dos testes, a Embrapa terá à disposição sementes de uma planta resistente a uma praga que hoje só pode ser controlada com aplicação preventiva de inseticida, tóxico e caro.
O primeiro pedido de liberação do feijão transgênico para plantio em campo experimental foi feito em 2001. "Começamos a trabalhar com o feijão e o vírus do mosaico dourado em 1991, quando não sabíamos nada a respeito do vírus", conta o engenheiro agrônomo Francisco Aragão, responsável pelo projeto. Em 1999, a equipe produziu uma planta promissora, cultivada em estufa e recebeu da CTNBio autorização para o teste. "Aí um juiz de Brasília incluiu nosso feijão na lei que trata de agrotóxicos e afins e exigiu registro especial temporário (RET), que é concedido pelo Ministério da Agricultura, após pareceres da Anvisa e do Ibama", conta Aragão. Nem o ministério sabia como conceder RET para transgênicos, mas em outubro do mesmo ano a Embrapa entrou com a papelada. As normas só saíram em 2002, com modificações. No final, foram necessárias sete autorizações. "É fundamental que a Lei de Biossegurança volte a ser o que era em 2001, com a CTNBio tendo poder técnico de decisão de segurança, cabendo aos demais órgãos e à sociedade decidir se é ou não conveniente plantar transgênicos", diz.
O vírus do mosaico dourado é transmitido pela mosca branca, que se alastrou por todo o País. A planta infectada encarquilha, suas folhas enrugam e ficam amareladas e a vagem, retorcida. O produtor ou perde a safra ou tem colheita reduzida. "Em muitas regiões, os produtores estão deixando o feijão de lado para plantar soja, milho e outras culturas por causa da praga", diz Aragão.
O vírus insere seu DNA na planta e passa a produzir uma enzima chamada replicase, fundamental para sua replicação. Quando atinge determinado nível de replicase, o vírus passa a se reproduzir. O feijão transgênico recebeu um gene mutado de replicase. "Quando o vírus entra na planta, não produz a sua replicase porque o nível na planta já é o ideal. Mas a réplica da planta não permite que ele se reproduza", explica. Sem poder se reproduzir, o vírus não afeta a planta.
Nos testes de campo, os pesquisadores vão verificar se o feijão transgênico se adapta a condições normais de temperatura, variação de umidade e luminosidade. "Produziremos o bastante para poder fazer testes de segurança alimentar", diz Aragão. Uma coisa a Embrapa já sabe. O novo gene não se expressa na semente.

OESP, 12/03/2004, Geral, p. A12

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