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Ianomâmi aprende informática

A Crítica-Manaus-AM
06 de Mai de 2002

O ianomâmi Antônio Paquidari, 33, realizou ontem um grande sonho. Concluiu o curso de informática e agora pretende colocar em prática o conhecimento adquirido na aldeia. O trabalho pioneiro resultará em uma cartilha bilingüe que deve sair em breve, editada pela Universidade do Amazonas (UA). "Nunca vi como era um computador. Via as outras pessoas fazendo, até que chegou o grande dia." O início foi difícil. Esbarrou na língua e nos comandos. "Não sabia como usar. Mas os professores foram pacientes. Agora aprendemos para ensinar os outros", disse Antônio. Outro sonho, agora a ser realizado, é conseguir os computadores para continuar o trabalho nas aldeias.

O curso, que começou há um mês e encerrou ontem, foi uma parceria entre a UA e o Serviço e Cooperação com o povo ianomâmi (Secoya), uma Organização Não-Governamental (ONG) de apoio a este povo. Foram 12 alunos - dentre eles uma mulher - que concluíram o curso de Windows, Word e Excell no laboratório do Centro de Artes Hahnemann Bacelar (Caua), com carga horária de 20 horas.

A idéia surgiu da necessidade do trabalho desenvolvido nas aldeias, explica o assessor educacional da Secoya, Ludian Bentes, que coordenou o curso de computação. "Somos os responsáveis pela parte da criação e elaboração de todo o material que é utilizado nas escolas, no que se refere à diagramação e impressão. Mas os próprios ianomâmis reivindicaram a participação neste processo", comentou, acrescentando que daqui a pouco tempo os indígenas poderão editar seus próprios jornais, cartilhas, manuais e outros documentos.

A maior preocupação agora, disse Ludian, é o distanciamento da prática que os ianomâmis terão ao retornarem à aldeia. "Trabalhamos numa perspectiva humanitária e queremos despertar esse lado em vários setores da sociedade, desde que tenham uma afinidade com o projeto e não queiram retorno", explicou o assessor. "O nosso objetivo agora é dar continuidade ao projeto e precisamos da ajuda da sociedade."

Daniel Ironositeri, 22, é um dos ianomâmi que concluiu o curso. "Estou com vontade de continuar. Aprendemos com os professores e precisamos colocar em prática com o nosso povo."

O curso de informática faz parte do Programa de Educação Bilingüe (PEB) desenvolvido pela Secoya, há dois anos. Cerca de dez escolas, com mais de 180 alunos fazem parte do programa. "Nossa expectativa é que o curso seja repetido para as outras pessoas da aldeia. Só assim, dominando as diversas ferramentas como a informática, é que este povo conseguirá sua autonomia."

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