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Hora de baixar as armas

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
Autor: Jessé Souza *
22 de Abr de 2010

O mais significativo 19 de abril da História do Brasil com certeza foi o deste ano, quando um presidente da República foi pessoalmente festejar com os povos indígenas a data e ainda um ano da confirmação da legalidade da homologação da emblemática Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Muita história se passou para que isto acontecesse. Porém, como se trata de um momento comemorativo, não cai bem ficar relembrando os momentos tristes. É preciso focar a alegria surgida de uma luta de quase três décadas e meia contra todos os poderes até alcançar a vitória na mais alta Corte da Justiça brasileira, o STF.

Além do mais, a grande batalha foi vencida e não há motivos para chutar a cabeça dos que utilizaram a violência e o poderio econômico e político, e mesmo assim foram derrotados dentro da lei. Agora há outro desafio, que é o de melhorar a vida das comunidades indígenas.

Embora todos saibam que os esforços políticos das lideranças indígenas e de seus aliados foram concentrados na luta pela terra, surge no seio da sociedade uma orquestração de negativismo, pessimismo e de cobranças absurdas, tudo como forma de revanche ou de puro comportamento anti-indígena que nunca cessou.

Se os povos indígenas e suas entidades estavam lutando pela terra, como poderiam ter tempo para planejar outros projetos destinados a melhorar a vida dos índios? Chegamos a um ano da confirmação da legalidade da RSS, mas já surgem aqueles que acham que nesses 12 meses os índios - de forma mágica ou mítica vinda de Makunaima - já deveriam ter desenvolvido suas terras.

Com montanhas de recursos financeiros à custa dos cofres públicos, os grandes produtores precisam de mais de 10 anos para alcançar alguns objetivos, então por que os índios iriam conseguir algo em um ano sem nenhum apoio? Nenhum projeto, por mais completo que seja, apresenta resultado satisfatório no prazo de um ano. A não ser nas propagandas governamentais...

Há um setor da sociedade que não se cansa de torcer contra e de cobrar resultados mágicos que não se encaixam em nenhuma sociedade e em nenhuma cultura, principalmente a indígena, que foi desprezada, desrespeitada e pisoteada ao longo dos séculos.

Até a festa realizada pela Comunidade de Maturuca, com a presença do presidente Lula da Silva, recebeu dura vigília daqueles que estão de prontidão para enxergar somente o lado negativo, como forma de dizer na sua vingança mal disfarçada: "Está vendo, esses índios são um bando de incompetentes como vínhamos dizendo".

Ainda não compreendi de onde surge tanta vontade de torcer contra, de buscar lá no fundo falhas e erros como forma de provar algo para a sociedade envolvente contra os povos indígenas, os quais bravamente lutaram contra tudo e contra todos em favor de suas terras.

Não seria a hora de baixar as armas? Não seria mais correto torcer para que os índios consigam desenvolver suas terras para se tornar uma força que contribua para o desenvolvimento de Roraima? Ou essa torcida e ações contra nunca vão cessar, como prova definitiva do preconceito e discriminação que também nunca cessarão?

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza - Blog: http://pajuaru.blogspot.com/

http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=84775

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