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Homem causa evolução ao inverso

OESP, Vida, p. A33
06 de Mai de 2006

Homem causa evolução ao inverso
Ícone da teoria evolutiva de Darwin, o tentilhão de Galápagos retoma forma original devido à presença humana

Os tentilhões de Galápagos são ícones da evolução, desde que o naturalista britânico Charles Darwin estudou exemplares coletados na ilha no século 19. Agora, eles se tornam um exemplo de "desevolução", graças à presença cada vez maior do homem na região.

Uma análise publicada neste mês na revista Proceedings of the Royal Society B sugere que as aves estão voltando à antiga forma, perdendo a característica que diferenciava uma espécie de outra: os formatos diferentes de bico.

Esses animais apresentam poucos atrativos visuais, todos muito parecidos entre si. Porém, eles chamaram a atenção de Darwin por causa do bico, que muda de espécie para espécie como uma adaptação natural ao tipo de dieta - como acontece com o tentilhão terrestre do grupo Geospiza.

O Geospiza fuliginosa tem um bico pequeno, ideal para capturar sementes menores e macias. Já seu primo G. magnirostris, pelo contrário, prefere sementes duras e maiores, e apresenta um bico mais robusto e forte para dar conta do recado.

Acontece que o volume crescente de pessoas na Baía Academia mudou a disponibilidade e o tipo de comida. Este parece ser um dos motivos para que aves com bicos pequenos ou grandes terem dado espaço para as com bico médio, que comem sementes nem muito duras nem muito moles, nem grandes nem pequenas.

"Acho que o certo seria dizer 'especiação ao inverso', pois a evolução sempre segue as condições ambientais", diz Jeffrey Podos, da Universidade de Massachusetts (EUA), que participou do estudo.

DE VOLTA ÀS ORIGENS

O bico médio é uma característica ancestral dos tentilhões que perdeu força à medida que aves com bicos especializados surgiram em Galápagos - tanto que tal perfil era raro em animais selvagens até os anos 60.

O cenário mudou desde então. Os pesquisadores, liderados por Andrew Hendry, da Universidade McGill (Canadá), observaram o aumento do número de tentilhões com bico médio e a redução dos outros dois tipos na Baía Academia - cuja população humana cresceu de 900 em 1974 para 9.582 em 2001.

Eles compararam os dados de lá com outros dois pontos da ilha que mantêm uma taxa de ocupação humana baixa, e perceberam que o fenômeno era bastante visível na baía.

Apesar de o motivo para a "desevolução" ainda não ser claro, o fato de outros locais não sofrerem o mesmo fenômeno exclui fatores como mudanças climáticas. "Pode até ser um padrão migratório, mas sabemos que a presença do homem mudou os recursos naturais na baía. Houve a introdução de espécies exóticas, alimentação artificial das aves e alteração do hábitat de todas as formas", explica Hendry.

O grupo termina o artigo com uma sugestão aos ambientalistas: programas de preservação deveriam levar em conta não apenas a capacidade de as populações dos animais se manterem estáveis mas também a forma como elas se desenvolvem ao longo dos anos.

"Preservar a habilidade de os animais se diversificarem é uma forma de realmente conservar a biodiversidade", afirma Hendry.

O local: pertence ao Equador, fica no Pacífico, a 1.000 km da costa

A importância: Charles Darwin (1809-1882) visitou o local em sua juventude. O isolamento permitiu uma taxa alta de especiação, a formação de uma ou mais espécies a partir de ancestral comum. A observação do local deu base ao livro A Origem das Espécies, que fundamentou a Teoria da Evolução

OESP, 06/05/2006, Vida, p. A33.

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