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Hoheisel expõe obras sobre ianomâmis

OESP, Caderno 2, p. D5.
Autor: CAMILA MOLINA
10 de Out de 2003

Mostra com 52 desenhos do artista alemão estarão reunidos no Museu Lasar Segall

Divulgação
Desenho: a única forma recorrente é a pequena flecha

Na trajetória do artista alemão Horst Hoheisel, a memória é o grande tema de seus trabalhos. Grande parte de sua pesquisa esteve ligada ao Holocausto, mas o artista também se voltou para o Brasil. Expôs na Pinacoteca uma obra sobre o prédio que funcionava como prisão na Avenida Tiradentes, em São Paulo, e de uma exposição coletiva, ainda em cartaz, que resgata a história política do edifício do Centro Universitário Maria Antonia - onde funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP até 1968.

Agora, sua obra estará, também, no Museu Lasar Segall, onde o artista inaugura, amanhã, uma exposição com 52 desenhos que relatam sua experiência com a tribo Ianomâmi. Sinais de Vida é o título da mostra realizada em parceria com o Instituto Goethe e que poderá ser vista até dia 21 de dezembro.

Sua vivência com a tribo ocorreu há mais de 30 anos. Nessa época, ele era engenheiro florestal e estava fazendo sua tese de doutorado sobre o ecossistema na Venezuela. A relação com a tribo foi impressionante, a de ver "uma vida simples", como diz Hoheisel. A experiência o influenciou de maneira tão forte que o fez "trocar de profissão". "Quis mudar de uma vida segura, como cientista, para uma insegura, a artística".

Hoheisel, que há 20 anos produz desenhos diariamente, como uma espécie de diário, pela primeira vez expõe essa parcela de seu trabalho. Em São Paulo, ele mostra suas lembranças, as memórias daquela experiência porque todos os desenhos que estão no Lasar Segall foram realizados em dezembro do ano passado e estão dispostos de forma cronológica.

De uma pequena lança de madeira que o artista levou consigo e deixou em seu ateliê surgem os desenhos, foi a sua inspiração. As obras são singelas, feitas com grafite e pastel oleoso e a forma da flecha se faz presente na maioria do conjunto. Não há uma referência tão explícita aos índios a não ser essa forma. "A lança é um ícone. A partir dele, Hoheisel constrói um universo próprio", diz a diretora do Museu Lasar Segall, Denise Grinspum. As obras falam de uma "memória pessoal", inspiradas pelas lembranças, sonhos, por uma "vida interna", como descreve o artista alemão.

Dezembro é o mês em que ele faz aniversário e este foi o critério para desenvolver essa série de desenhos já que a experiência com os ianomâmis foi, para ele, um marco. Ao mesmo tempo, há a ligação com o tema de sua trajetória, a memória. "Lembrar é preservar, assim como o tema do Holocausto", diz Denise, fazendo a ligação com outras obras do artista.

Outra questão é a realização diária de desenhos. Para remeter a esse hábito, a exposição também traz duas fotos: uma de Hoheisel ao lado de rolos compridos de desenhos e outra de pilhas de papéis e cadernos, imersos em seu ateliê. Um dos rolos, de 1987, será aberto para o público ver. Há também um caderno com anotações do artista sobre a série que apresenta.

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