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Historia do Brasil Indígena - I

Dourados Agora - www.douradosagora.com.br
Autor: Wilson Matos da Silva*
28 de Out de 2008

Caro leitor, gostaria de neste e nos próximos artigos, compartilhar com vocês a história dos povos indígenas no Brasil, trabalho de pesquisa por mim realizado. Em virtude do espaço vamos expor em "história do Brasil Indígena I, II, III". A história precisa ser relembrada para que a sociedade tome conhecimento de quão grande foi o sofrimento dos nossos povos, vitimados pela fúria gananciosa dos nossos algozes colonizadores.

A colonização do Brasil foi um enorme genocídio, que dura até os dias de hoje. De acordo com o dicionário Aurélio, genocídio é um "crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes: matar membros seus, causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente no todo ou em parte; adotar medidas que visem evitar nascimentos no seio do grupo, realizar a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro."

Todos estes atos e muitos outros foram cometidos contra os nossos antepassados que habitavam o Brasil. Na medida em que as terras brasileiras foram sendo invadidas pelos europeus, os povos indígenas foram sendo exterminados ou empurrados para regiões cada vez mais distantes. O genocídio aconteceu não apenas através das violências, massacres, maus tratos, trabalho escravo; as doenças trazidas pelos europeus, contra as quais os indígenas não tinham imunidade, também mataram milhões. "Muitas nações desapareceram sem deixar sequer seu nome registrado na História".Fonte FUNAI

Os europeus se julgavam os donos da terra, - qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência - não respeitavam a vida comunitária dos nossos povos, não aceitavam sequer que os nossos povos possuíam alma, por possuir-mos culturas e religiões diferentes. Frei Bartolomé de Las Casas presenciou a invasão do Brasil e registrou (em 1511) a violência praticada contra os indígenas no século XVI: "Certa vez os índios vinham ao nosso encontro para nos receber, à distância de dez léguas de uma grande vila, com víveres e viandas delicadas e toda espécie de outras demonstrações de carinho. E tendo chegado ao lugar, deram-nos grande quantidade de peixes, de pão e de outras viandas, assim quanto tudo quanto puderam dar... Mas eis que os espanhóis passam a fio de espada, na minha presença e sem causa alguma, mais de três mil pessoas, homens, mulheres, crianças, que estavam sentadas diante de nós. Eu vi ali tão grandes crueldades que nunca nenhum homem vivo poderá ter visto semelhantes... Também na terra firme... na madrugada, estando ainda os índios a dormir com suas mulheres e filhos, os espanhóis se lançaram sobre o lugar, deitando fogo às casas, que eram comumente de palha, de sorte que queimavam todos vivos, homens, mulheres e crianças... Mataram a tantos que não se poderia contar e a outros fizeram morrer cruelmente... e a outros fizeram escravos e marcaram-nos com ferro em brasa..." (LAS CASAS, 1984)

Nos cem primeiros anos de colonização o genocídio foi intensivo. Estima-se que neste período aproximadamente 70% da população indígena brasileira tenha sido eliminada. Em 1.560, Men de Sá, governador geral do Brasil, escreveu uma carta ao rei de Portugal contando com orgulho as suas façanhas na colônia: em uma noite, ele havia destruído e queimado uma aldeia próxima à vila, matado todos os indígenas que resistiram a este ataque e seu trunfo foi ter enfileirado os corpos ao longo de aproximadamente seis quilômetros de praia.

E este é apenas mais um exemplo da violência que os nossos antepassados indigenas sofreram. Os invasores travaram guerras contínuas e cruéis contra os indígenas. São Paulo, no séc. XVI, era um pequeno vilarejo, e as expedições que se dirigiam ao interior do país eram chamadas de "bandeiras". Os bandeirantes eram pessoas especializadas em caçar e exterminar, ou escravizar os indígenas, ou quaisquer outros obstáculos que se opusessem à conquista do interior das terras brasileiras e suas riquezas.

Ao mesmo tempo, as missões jesuíticas iniciaram o confinamento de povos indígenas em aldeamentos. Os indígenas confinados nestes aldeamentos não se tornavam escravos, mas eram obrigados a abandonar o modus vivendi, seu modo de vida tradicional, substituindo suas crenças e rituais pelas cerimônias e ritos católicos, além de estarem sujeitos com mais freqüência às doenças trazidas pelos não-indígenas. Em 1620 já haviam quase 30 mil indígenas vivendo nessas missões. Missões que eram atacadas e dizimadas pelos bandeirantes.

Segue na próxima semana, abordando as técnicas de extermínio usadas pelos algozes colonizadores.

*É Índio Residente na Aldeia Jaguapirú, Advogado, Presidente da CEAI/OABMS (Comissão Especial de Assuntos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de MS); E-mail wilsonmatos@pop.com.br

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