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Hidreletricas deixam um milhao sem terras

CB, Brasil, p.14
08 de Jun de 2005

Hidrelétricas deixam um milhão sem terras
Erika Klingl
Da Equipe do Correio
Há quatro anos, Manoel Rufino de Oliveira, de 76 anos, deixou sua roça. Desde então, o que resta de sua casa está embaixo da represa Cana Brava, no norte de Goiás. Ele conta que, para ser forçado a sair, queimaram o casebre de palha onde ele e a família moravam. A gente não queria sair. Lá estava tudo o que eu conheci e vivi”, conta, emocionado. De acordo com Manoel, até hoje ele não foi indenizado. Estou rolando pedra. Não tive como comprar outras terras. Vendi meus animais para comprar um barraco”, conta. Ele hoje vive em Colina do Sul (GO).
Assim como Manoel, existem milhares de pessoas atingidas por barragens que não têm onde morar, emprego ou condições de recomeçar a vida. De acordo com o Movimento Nacional dos Atingidos por Barragens (MAB), um milhão de brasileiros já foram expulsos de suas terras por causa da construção de hidrelétricas e reservatórios de água. Setenta por cento das famílias expulsas não receberam qualquer tipo de reparação. Ainda de acordo com o MAB, mais de 32 mil quilômetros quadrados de terra fértil já foram inundados pela criação de reservatórios.
Por conta da construção de uma barragem em Minas Gerais, o Brasil está sendo citado na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). A empresa canadense Alcan, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo teria violado os direitos humanos da população atingida pela construção da barragem de Candonga, em Minas Gerais. O relatório que narra a retirada dos moradores, o reassentamento e o apoio financeiro a pequenos produtores rurais, garimpeiros e pescadores, feita por um grupo de 70 organizações não-governamentais, coloca no banco dos réus a Alcan. A denúncia servirá para um ambicioso projeto da ONU: criar parâmetros para a atuação das multinacionais em países do Terceiro Mundo e nações em desenvolvimento.
Invasão
Manoel e cerca de 500 pessoas ligadas ao MAB passaram a semana passada acampados na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Brasília. O grupo tem pessoas atingidas pela barragem de Cana Brava e também da barragem de Serra da Mesa, em Minas Gerais. Tenho esperança. Por isso vim com a minha mulher para cá e vou para onde for necessário”, disse Manoel. O BID foi responsável pelo financiamento de um terço da obra e, por isso, foi escolhido como alvo da manifestação.
Dona Cornélia Martins Pereira, de 72 anos, não precisou deixar a terra. Apenas uma parte de sua roça foi desapropriada para a construção de uma rodovia que liga a hidrelétrica ao estado de Goiás. O problema é que ela ficou longe do poço que fornecia água, as cercas construídas pelo consórcio não foram adequadas para manter seus bodes e vacas dentro da pequena propriedade e, para piorar, ela não recebeu a indenização.
A expectativa dela é a de que o BID pressione a empresa belga Tractebel Energia pelo pagamento da dívida social para com os atingidos pela barragem de Cana Brava, no norte de Goiás. Eles querem a indenização das famílias para reparar as perdas sociais, econômicas e culturais causadas pela construção da barragem. A Tractebel é a empresa responsável por Cana Brava, que há três anos já está em operação.
De acordo com o BID, a instituição não é responsável pelo projeto e muito menos pela indenização. Pelo contrato, isso é responsabilidade da Tractebel, mas estamos negociando ajuda de organizações não-governamentais para ajudar a população dessa região que é historicamente pobre, sem oportunidades de crescimento”, explica Roberto Velluntin.

CB, 08/06/2005, p. 14

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