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Hidrelétrica ameaça bromélia em SC e RS

FSP, Ciência, p. A20
11 de Jun de 2005

Hidrelétrica ameaça bromélia em SC e RS
Espécie pode ser extinta no Brasil caso reservatório seja enchido; empresa e Ibama planejam transferência
Grande teste clínico começa no Rio

Reinaldo José Lopes

As últimas populações naturais de uma planta ameaçada de extinção desaparecerão do Brasil caso o reservatório de uma nova hidrelétrica entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul seja enchido. Segundo botânicos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), esse pode ser o destino da bromélia Dyckia distachya, típica das corredeiras do rio Uruguai e de seus afluentes.
O dado vem às vésperas do enchimento do reservatório da usina hidrelétrica de Barra Grande, cujo lago artificial engolirá áreas de mata de araucária nos municípios de Anita Garibaldi, Cerro Negro, Campo Belo do Sul, Capão Alto e Lages (SC) e Pinhal da Serra, Esmeralda, Vacaria e Bom Jesus (RS). Tanto a Baesa, empresa responsável pela obra, quanto o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirmam ter planos de realocar as bromélias ou mudas delas para outras áreas.
O procedimento, no entanto, pode não ser suficiente para impedir que a espécie se torne extinta na natureza no Brasil. É o que afirma Ademir Reis, do Departamento de Botânica da UFSC, que coordenou o estudo. "O risco da mudança é muito grande. Um transplante parecido foi feito no caso da hidrelétrica de Machadinho, e as populações [da planta] não estão conseguindo se regenerar", diz Reis, que integra o projeto "Dyckias reófitas do sul do Brasil", sobre plantas do mesmo gênero da bromélia ameaçada.
A D. distachya, também conhecida como gravatá, está adaptada às margens das corredeiras do Uruguai ou de afluentes como o Pelotas, crescendo em solos rochosos. Já foi comum em várias partes da região Sul, mas a construção de reservatórios, a começar pelo da usina hidrelétrica de Itaipu, fez encolher sua distribuição. Além de três populações em Barra Grande, a planta agora só ocorre na Argentina.
"Ah, agora é bromélia? Antes era araucária", disse um funcionário da Baesa à Folha ao ser informado do problema. A construção da usina foi contestada na Justiça por ambientalistas, como a Rede de ONGs da Mata Atlântica. O estudo de impacto ambiental original do projeto alegava que não havia mata primária ("virgem") na região, quando na verdade ela correspondia a 25% da área a ser inundada.
A Baesa encaminhou à Folha nota da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com a qual a empresa tem acordo para resgate do patrimônio genético da vegetação inundada. Nela, menciona-se o recolhimento de exemplares da bromélia, feito no mês passado. Segundo a nota, eles estão em casas de vegetação e, mais tarde, mudas poderão ser encaminhadas para o lago do reservatório. "Mas recolher plantas isoladas não preservará a diversidade genética", critica Reis. A liberação do enchimento do reservatório pode sair até o fim do mês.

FSP, 11/06/2005, Ciência, p. A20

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