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Hepatite mata índios no vale do Javari

Agência Amazônia de Notícias
Autor: RAIMUNDO PACCÓ
05 de Out de 2006

BRASÍLIA - A malária e a hepatite estão matando os índios do vale do Javari, no sul do Amazonas. De janeiro para cá 23 índios morreram na região, sendo quatro deles por hepatite. A informação partiu do O Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), que cobra atenção das autoridades de saúde para a situação dos indígenas do Javari. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) confirma 17 óbitos na área, um deles por malária e outro por hepatite.

No Amazonas, a hepatite atinge 300 mil pessoas, o equivalente a 10,77% da população, segundo estimativa da Fundação de Medicina Tropical (FMT), de Manaus (AM). No Brasil mais de 2 milhões de pessoas são portadores de vírus B, e outros 3 milhões de hepatite C.

De acordo com o Civaja, o número de infectados pode chegar a 25% da população indígena da área. A reserva com 8,5 milhões de hectares abria cerca de 3,5 mil índios. Em agosto, o Civaja denunciou o alto número de infectados por malária e hepatite, doença que, segundo eles, cresceu pela falta de ações preventivas. A entidade também relata que há grande número de casos de malária.
"Faltam desde os medicamentos para o tratamento da doença até mesmo condições para as equipes se deslocarem para as aldeias". Os programas de controle de malária são baseados no diagnóstico e tratamento precoce, e para isso é importante haver postos de diagnóstico com agentes treinados, além do controle do mosquito para diminuir a transmissão.
Ausência de médicos na área

Relatos de pessoas que visitaram a área recentemente revelam a ausência de médicos na região. Segundo estas informações, há cerca de um mês, os únicos profissionais de saúde que atuavam na terra indígena eram quatro técnicos de enfermagem. E os Agentes Indígenas de Saúde teriam pelo menos quatro meses de salários atrasados.
A assessoria de imprensa da Funasa informou que "quanto ao surto de hepatite viral, há cerca de um ano a Funasa tem atuado em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical, no sentido de isolar os portadores para evitar novos contágios. No que diz respeito à malária, a Funasa implementou diversas ações de combate ao mosquito transmissor, realizando borrifações na área. Atualmente, a doença está sob controle na região". Já houve surtos anteriores de mortes por hepatite em 2001 e 2003.

"A situação é muito grave para ter espaço para demora e incompetência. Precisa estruturar o Distrito de Saúde, capacitar pessoas. Para começar a resolver o alto número de pessoas com hepatite, precisa de periodicidade na aplicação das vacinas. Uma das razões por que a doença se alastrou tem a ver com o fato de a vacina não ter sido bem aplicada", avalia Beatriz de Almeida Mattos, membro da equipe do Centro de Trabalho Indigenista (CTI). Ela relata que um dos professores com os quais trabalhava diretamente faleceu de hepatite hemorrágica e que, em um grupo de 15 professores, outros 4 estão infectados.

Funasa não vacina índios

De acordo com o Prof. Dr. Pedro Luiz Tauil, do departamento de Medicina Social da Universidade de Brasília (UnB), a existência de vacinas para hepatite faz com que a ocorrência de mortes pela doença seja "grave". A vacinação, no entanto, precisa ser feita em três doses, ao longo de 180 dias. E as vacinas precisam ser mantidas resfriadas até o momento de serem aplicadas.
"Desde 2002, a Funasa não consegue realizar mais de duas vacinações por ano. Desde 1995, se falava que o não cumprimento do cronograma das vacinações comprometeria qualquer ação para barrar a epidemia", diz o Civaja, que foi responsável pelo convênio com a Funasa até 2004.

E o próprio Civaja propõe soluções: "Existem medidas preventivas que poderiam solucionar (...) a situação, dentre as quais a execução de ações de busca em todas as aldeias da reserva indígena, sistematização das campanhas de vacinação para hepatite e a conscientização dos indígenas sobre a importância da prevenção à doença, dentre tantas outras providências dessa
natureza".

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