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Hepatite ataca indios no Javari

A Critica, Cidades, p.C6
10 de Dez de 2003

Hepatite ataca índios no Javari
Administrador da Funai em Atalaia do Norte denunciou à Fundação Nacional de Saúde que está havendo mortes entre Maiurunas e Marubos
Ana Celta Ossame
Ao menos sete índios de duas etnias do Vale do Javari - maiuruna e marubo - morrem a cada mês vítimas de hepatite, doença que chega a atingir metade da população de uma aldeia marubo. A denúncia foi feita pelo administrador substituto da Fundação Nacional do índio (Funai) em Atalaia do Norte ( a 1.380 quilômetros de Manaus), Francisco Carlos, em comunicado oficial à presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Francisco disse que o problema não é novo, mas vem se agravando diante da falta de ações efetivas da Funasa para combater o problema. Uma das aldeias mais atingidas é a dos índios marubos do rio Ituí, onde, dos 30 habitantes, metade está com a doença, contou o administrador, lamentando que, apesar da presença da Funasa na área, as mortes continuam acontecendo quase toda semana.
Sem efeito
De acordo com o administrador da Funai, os índios do Vale do Javari mais atingidos pela hepatite são os marubos, maiurunas, matis e canamaris. Agora, a Funasa está fazendo um trabalho na área, mas ainda não há resultados.
Devido ao estágio da hepatite, os remédios já não fazem mais o efeito esperado, o que aumenta o contágio e a mortalidade entre os índios. 0 Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja) é a organização não-governamental (ONG) que deveria realizar as ações de prevenção e combate por ter convênio com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), mas isso não acontece da forma esperada. "Às vezes, eles não têm gasolina para se locomover e fazer atendimento nem em caso de urgência", relatou Francisco.
Parceria
A coordenadora regional da Funasa, Lúcia Antony, admitiu que a doença já tornou-se crônica naquela região, tão antigo é o problema, mas anunciou novas ações com o objetivo de fazer a prevenção e o tratamento de forma adequada, em parceria com outros órgãos de saúde. Levantamentos estão sendo feitos para se conhecer o número de casos da doença e quantas mortes ocorreram.
Medicina tropical
Há dois meses, segundo Lúcia, a Funasa propôs uma reunião em Brasília para discutir os procedimentos a serem adotados para essa área. Por isso, algumas intervenções já foram iniciadas em aldeias com maior número de casos. Numa delas, a maronal, dos marubos, encontram-se técnicos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) que foram coletar sangue para fazer o diagnóstico, atendimento clínico e cobertura vacinal. Paralelamente a isso, especialistas discutem formas de como debelar a doença, que é de fácil contágio, inclusive por via sexual.
Lúcia atribui o agravamento do problema à falta de uma política orientada para atender à saúde indígena. Falta infra-estrutura básica para beneficiar as comunidades e aldeias, apesar de no governo passado terem sido liberados recursos para isso.
Há problemas como falta de local para armazenar combustível a ser levado para as aldeias, que são distantes da sede municipal, fato que onera muito as ações da Funasa. Mas após assinatura de um termo de conduta com o Ministério Público, a Funasa contratou três consultores e uma enfermeira para gerenciarem as ações emergenciais no Vale do Javari.
Outro problema apontado pela coordenadora da Funasa que dificulta a prevenção e o tratamento da doença é o fator cultural, que não é fácil de resolver. 0 órgão, no entanto, trabalha com o objetivo de quebrar a cadeia de transmissão, vacinando os portadores do vírus da hepatite.

Atendimento em aldeias
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas está amparada por um subsistema criado pela lei 9.836, de 23 de setembro de 1999. E o modelo de organização desta política converge nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), cujo trabalho está voltado para a atenção primária à saúde dos indígenas.
Atualmente, o atendimento básico nesse sentido é feito, nas próprias aldeias, por meio das equipes de saúde. 0 trabalho nos postos dos distritos é desenvolvido pelos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (Aisan). Os casos de maior complexidade são encaminhados às unidades de referência, denominadas de Casai.
A população indígena no País está estimada em 400 mil pessoas, que pertencem a 210 povos falantes de mais de 170 línguas identificadas.

A Crítica, 10/12/2003, p. C6

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