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Hábil no arco e flecha e no cabo da enxada

OESP, Metrópole, p. C10
13 de Ago de 2006

Hábil no arco e flecha e no cabo da enxada
Cacique enfrenta estranhos e luta por ensino fundamental na aldeia

Bravo do Mato é descendente dos guerreiros caingangues. Diante de estranhos, pega o arco e a flecha. E oferece artesanato, por R$ 7,00. Seu instrumento de trabalho é outro, a enxada. Cinesco Cotui, ou Loeli (Bravo do Mato) em sua língua, está com problema no joelho. Tem dificuldade para conseguir trabalho nas fazendas próximas.

O cacique Tiópré (Onça Brava) está lutando para que sua aldeia tenha o curso fundamental completo. Não quer que as crianças saiam de lá para estudar. "Lá fora está muito perigoso." Esses caingangues vivem no posto indígena de Arco Íris, na região de Tupã, a 530 quilômetros de São Paulo.

Sabem que, no passado, muitos índios morreram combatendo o homem branco que invadiu suas terras. Mas não conhecem muito além disso. "Morreram muitos índios lá no Rio Feio", diz o cacique Irineu Cotuí, ou Tiópré (Onça Brava). O rio está a 10 quilômetros. "Eles tinham aldeia lá." Nesse lugar foram achados vasilhames de barro, que estão em um museu indígena de Tupã. Quem sabe um pouco mais, diz o cacique, é o índio Biriba. "Mas ele tem medo de branco, não chega perto." Biriba, afinal, não foge da aproximação. Mas se esquiva. "Meus pais não me contaram nada."

Os caingangues vivem em 390 alqueires, junto com os krenaki. São 78 famílias. Têm lavoura e criam algum gado, para consumo e leite. Só não caçam e pescam. Suas terras não têm mais mata nem são cortadas por rio. Para caçar, têm de sair da aldeia. "Lá fora pode caçar, mas é escondido." Ou seja, não é permitido caçar. "Já teve índio preso por causa de capivara."

Caça e pesca na raça
O filho do cacique krenaki, Wagner Damasceno, de 22 anos, explica bem as coisas. "Para pegar porco do mato ou capivara tem de andar muito e entrar nas fazendas à beira do rio, o que também é proibido." A pesca no rio (o mesmo Feio, tão distante) não é permitida com rede. "E com vara só vem peixe pequeno." Wagner resolve a questão: "Mergulho e pego peixe grande com as mãos."

Ele é secretário da escola da aldeia, que só tem até a quarta série. Quem quer avançar nos estudos vai para Tupã no ônibus da prefeitura. Na escola da aldeia, crianças têm lições em português e no idioma caingangue. Vaca: kohoró-ninka. Pato: pen méck. Os índios moram em casas de alvenaria, têm posto de saúde com remédio, água e luz. Três igrejas, uma católica e duas evangélicas. Um posto da Funai. Vivem da lavoura de subsistência e plantam amendoim para vender.

OESP, 13/08/2006, Metrópole, p. C10

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