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Guajajaras liberam os reféns

CB, Brasil, p. 10
10 de Fev de 2006

Guajajaras liberam os reféns

Índios suspendem protesto por causa do atendimento de saúde e desbloqueiam a Ferrovia Carajás. Funasa sinaliza com melhoria na prestação dos serviços médicos

Da Redação

Depois de um acordo negociado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), os índios guajajaras, que vivem no Maranhão, decidiram suspender o protesto e liberaram ontem a Ferrovia Carajás e libertaram os quatro reféns, funcionários da Vale, que estavam detidos desde terça-feira. Duzentos índios se mobilizaram por causa dos problemas no serviço de atendimento médico prestado pela Funasa no estado às 17 comunidades espalhadas pelo interior do estado.
Na madrugada de ontem, por volta das 3h, os índios fecharam um pré-acordo com a Funasa, a Funai e a Vale, libertando os reféns e desobstruindo a ferrovia. Segundo os índios, a decisão foi um gesto para mostrar que eles estavam dispostos a negociar com as instituições. Além dos líderes guajajaras, estiveram presentes à reunião representantes de sete das oito etnias indígenas que vivem no Maranhão.
Segundo o líder indígena Francisco Guajajara, o que os índios fizeram foi dar um voto de confiança. "O movimento ainda não acabou. Se até segunda-feira não houver um acordo, nós voltaremos a obstruir a ferrovia", anunciou.
Ele refutou as insinuações de que os índios estavam sendo manipulados por organizações não-governamentais, que cuidavam da saúde indígena até 2005 e foram dispensadas pela Funasa por causa de problemas. Foram detectados indícios de fraude, como a realização de compras sem licitação e detectadas falhas nas prestações de contas. O líder guajajara disse que o movimento foi organizado pelos próprios índios. "A articulação do movimento foi feita por nós. Essa informação não passa de um boato", disse.
As principais reivindicações dos guajajaras são a reorganização dos distritos especiais de saúde indígenas. Atualmente, existem apenas três no Maranhão: Imperatriz, Barra do Corda e São Luís, que concentram todo o atendimento às populações indígenas. Eles também querem a distribuição de remédios e médicos nos postos de saúdes das aldeias. Os guajajaras reivindicam, ainda, a execução de um inventário das terras indígenas no estado para uma nova regularização fundiária das reservas e a garantia de que a fiscalização desses limites seja feita pelos próprios índios.
Para garantir o pré-acordo, os negociadores garantiram a cessão de cinco ônibus para buscar 200 índios representantes das outras seis etnias que vivem no estado para discutir as reivindicações indígenas e garantiram a revisão do convênio de fiscalização das terras indígenas com a Polícia Militar do Maranhão.
Mesmo com o anúncio de um acordo, no início da manhã, em São Luís, também houve uma reunião entre os representantes da Funai, Funasa e Vale com o juiz federal Marcelo Dolzany da Costa, o procurador República Juracy Guimarães Júnior e o superintendente da Polícia Federal Gustavo Ferraz Gominho para tratar do assunto.
Ficou acertado que o processo de reintegração de posse das terras terá prosseguimento, apesar da desocupação. A Funai anunciou que vai defender os índios, que deverão receber multa de R$ 200 mil por não ter cumprido a liminar expedida pela Justiça Federal determinando a reintegração de posse do trecho da estrada de ferro ocupada pelos índios.

CB, Brasil, 10/02/2006, p. 10

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