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Grupo inaugura era do transgenico livre

FSP, Ciencia, p.A12
12 de Fev de 2005

Biotecnologia - Grupo na Austrália cria ferramenta para produzir planta geneticamente alterada que contorna patentesGrupo inaugura era do transgênico livre
DA REDAÇÃO Um grupo de pesquisadores de um instituto australiano acaba de levar o movimento do software livre ao mundo da biotecnologia. Eles desenvolveram um método para produzir plantas transgênicas que contorna as patentes detidas por grandes empresas e pretendem torná-lo disponível de graça a outros cientistas.O "software" protegido, no caso, é um micróbio chamado Agrobacterium tumefasciens. Trata-se de uma bactéria altamente virulenta, que, ao infectar uma planta, transfere para ela parte de seus genes, causando um tipo de tumor.Essa propriedade faz com que a agrobactéria, como é conhecido o microrganismo, seja a ferramenta favorita dos biólogos para produzir vegetais geneticamente modificados. Para produzir uma planta transgênica, eles inserem a seqüência genética de interesse num anel circular de DNA (um plasmídeo) de uma agrobactéria. Ao infectar a planta, o micróbio cavalo-de-tróia faz com que os genes alienígenas se incorporem ao maquinário celular do vegetal.O problema é que o processo de transformação de plantas usando a agrobactéria é patenteado. Geralmente, quem quer usar o microrganismo precisa pagar uma licença às multinacionais Monsanto e Bayer. Segundo o geneticista Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, algumas das patentes são tão amplas que se tornam inescapáveis. "Se alguém encontrasse na Amazônia uma nova espécie de agrobactéria, ela estaria coberta por patente", disse.Para contornar o problema, o grupo liderado pelo biólogo Richard Jefferson, do Cambia (uma entidade sem fins lucrativos em Canberra, Austrália), usou o vasto arsenal da natureza e um pouco de criatividade. Em um estudo publicado na última edição da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), eles descrevem três linhagens de bactérias geneticamente modificadas capazes de transferir horizontalmente genes para plantas.Os experimentos foram feitos com arroz, tabaco e Arabidopsis, uma parente da mostarda. As plantas não só foram transformadas com sucesso como os genes transferidos foram passados para as gerações seguintes -indicador de que a transgenia funcionou.Terceiro MundoJefferson diz que ele e seus colegas organizaram a iniciativa por estarem frustrados com o fato de que boa parte das pesquisas em biotecnologia que podem beneficiar o Terceiro Mundo e os pequenos agricultores nas nações ricas está protegida por patentes.O cientista já havia dado um passo no sentido de criar um "open source" biotecnológico alguns anos atrás, quando descobriu e liberou para pesquisadores do mundo todo o gene GUS, uma espécie de etiqueta molecular que delata se uma planta foi transformada geneticamente ou não.O Cambia também desenvolveu plasmídeos de acesso livre, os pCAMBIA, que podem ser usados em agrobactérias -os plasmídeos mais comuns em biotecnologia também são patenteados.Segundo Jefferson, a tecnologia usada para transformar os três novos "cavalos-de-tróia" -as bactérias Rhizobium sp., Sinorhizobium meliloti e Mesorhizobium loti- em ferramentas para os biólogos estará disponível por meio da iniciativa Bios (Inovação Biológica para a Sociedade Aberta), lançada por seu grupo (www.bios.net). Apesar de ser de graça, o usuário deve assinar um acordo, pelo qual se compromete, entre outras coisas, a compartilhar qualquer inovação que ele venha a produzir nas ferramentas.É o equivalente biológico da plataforma Linux, um software de livre acesso que surgiu para se contrapor ao monopólio do Windows, da Microsoft.Limites"Essas ferramentas são fornecidas sob um novo paradigma de licenciamento que assegura que elas sejam melhoradas, compartilhadas e retidas como um recurso público", diz Jefferson.Para Aragão, o trabalho é interessante também do ponto de vista tecnológico. "A agrobactéria tem limitação de tecido e espécie", afirma. Ou seja, não é possível utilizá-la para transformar algumas plantas. Quando mais vetores novos, melhor.
FSP, 12/02/2005, p.A12

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