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Grupo anticrise tentará evitar falta d'água

OESP, Metrópole, p. A18
06 de Fev de 2014

Grupo anticrise tentará evitar falta d'água
Em meio à disputa de cidades por recursos hídricos, governos estadual e federal instalam órgão para observar sistemas e evitar racionamento

Fabio Leite e Ricardo Brandt / CAMPINAS - O Estado de S.Paulo

Diante da estiagem histórica no Sistema Cantareira e em meio à crescente disputa por água entre cidades da região de Campinas e a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), os governos estadual e federal decidiram instalar um comitê anticrise. A proposta é monitorar diariamente o nível dos reservatórios e a previsão de chuva a fim de evitar racionamento generalizado, nos dois lados, sem alterar o volume atual de água retirado das represas.
A medida, que deve ser anunciada nos próximos dias, foi a saída encontrada ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA), órgão federal, e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), do Estado, para adiar a decisão sobre os pedidos do Comitê das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e da Sabesp por um volume maior do banco de águas (reserva virtual) do Cantareira no período de escassez.
O manancial tem capacidade máxima para produzir até 36 mil litros por segundo. Por contrato, a Sabesp tem direito a captar entre 24,8 mil litros (vazão primária) e 31 mil litros (secundária), quando há estoque de água. Já o PCJ retira entre 3 mil litros e 5 mil litros, respectivamente. Hoje, porém, mesmo com o sistema tendo só 20,9% da capacidade de armazenamento, a mais baixa em dez anos, a Sabesp continua captando água do banco, enquanto o PCJ usa a cota mínima.
Com cidades como Valinhos e Vinhedo já enfrentando racionamento de água, o Comitê do PCJ pediu à ANA e ao DAEE que a Sabesp pare de usar os 6 mil litros da reserva agora para que não falte água no período de estiagem do meio do ano. Ontem, o grupo ganhou apoio dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, que pediram aos dois órgãos a interrupção do uso do banco de águas pela Sabesp.
"Nesse cenário hidrológico crítico, baixo índice pluviométrico, escassez de água, e risco iminente de desabastecimento, não é possível que a Sabesp continue com a vazão atual, sendo que o volume de entrada hoje é de apenas 5 mil litros por segundo. Por isso, estamos pedindo a revisão dessa regra. É uma situação excepcional", disse a promotora Alexandra Facciolli.
Racionamento. Fontes ligadas ao governo paulista, porém, afirmam que a adoção da medida proposta pelo MPE resultaria no imediato racionamento de água na Grande São Paulo, onde 47% da água vem do Cantareira. Para evitá-lo, a Sabesp lançou programa que dará 30% de desconto na conta para quem economizar ao menos 20%. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que a medida garante água até o dia 15, quando espera-se a volta das chuvas, e que o problema não atinge outros mananciais. "É um problema localizado exclusivamente no Cantareira."
Mesmo assim, a companhia pediu à ANA e ao DAEE que os 3 mil litros de água destinados às cidades do PCJ sejam reduzidos pela metade para suprir uma possível escassez na Região Metropolitana de São Paulo. "Isso é inadmissível. É por isso que estamos aqui, para mostrar para a Agência Nacional de Águas que não existe a mínima possibilidade de diminuir essa vazão de 3 mil litros, que é uma vazão primária, ou seja, uma vazão para consumo humano", disse o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB).
A Sabesp informou que "não comenta medidas em estudo e cumpre as determinações da ANA e do DAEE". As solicitações, contudo, serão avaliadas pelos dois órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos do Cantareira em conjunto com as prefeituras e a Sabesp dentro do comitê anticrise.

Em Vinhedo, população faz estoque de água

RICARDO BRANDT - Agência Estado

No último mês, a primeira coisa que a pernambucana Maria Valdeci dos Santos, de 70 anos, faz depois que acorda é ver se tem água nas torneiras. Antes de tomar café, enche três baldes e todo o tanque de lavar roupa com água, para enfrentar as tardes e noites sem abastecimento. O bairro onde ela mora, o Von Zuben, na periferia de Vinhedo, interior de São Paulo, enfrenta racionamento desde dezembro.

"Todo final de tarde tem faltado água por aqui e quem não tem caixa d?água em casa tem de se virar do jeito que pode para conseguir tomar banho, lavar uma louça e as roupas", conta. Em Vinhedo, na região de Campinas, uma das mais afetadas do Estado, a autarquia municipal de abastecimento realiza desde dezembro o "rodízio por demanda" de água. Por meio de um sistema de monitoramento, quando é notada a falta de água em uma região, é interrompido o fornecimento em outras áreas que estavam com o abastecimento normal para a atender o local com problema.

"Se continuar sem chuvas nos próximos 20 dias, a situação vai complicar na cidade", disse o superintendente do órgão, José Francisco Beltramini. Além da água captada no Rio Capivari ter diminuído, as três represas locais estão pela metade. "Eu tenho mulher operada, um recém-nascido e mais duas crianças e tem faltado água todo dia", afirmou Billy Douglas Silva, de 29 anos.

Ele mora no bairro Capela, área alta e densamente habitada onde mais tem faltado água, e anda mais de oito quilômetros de carro para buscar água no Aquários, uma fonte de água tratada pública da cidade. "Chego a fazer isso quatro vezes no dia". Além de Vinhedo, Valinhos já realiza rodízio. Americana, Artur Nogueira, Jaguariúna e Pedreira também trabalham com a possibilidade de racionamento nos próximos dias.

Prefeitura decreta racionamento em Itu das 20h às 4h

JOSÉ MARIA TOMAZELA - Agência Estado

Sem condições de garantir o abastecimento da população, a prefeitura de Itu, região de Sorocaba, decretou racionamento de água a partir desta quarta-feira, 05. O abastecimento passa a ser interrompido às 20 horas e será retomado às 4 da manhã. A medida vale para toda a cidade, de 155.611 habitantes, e só será revogada quando voltar a chover e os reservatórios atingirem o nível normal.

Os quatro principais mananciais estão com menos da metade do nível normal para esta época - um deles está quase seco. Os bairros altos chegam a ficar 24 horas sem água. Uma nova estação de tratamento de água entrou em operação, mas não resolveu o problema, já que faltam chuvas.

Em Sorocaba, moradores de condomínios da zona norte interditaram a rua Atanázio Soares, uma das principais vias da região, em protesto contra a falta de água, na noite de terça-feira, 04. Com baldes e garrafas nas mãos, eles pararam o trânsito por uma hora, alegando que estavam sem abastecimento desde domingo. A Câmara aprovou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a falta de investimentos no abastecimento. Bairros altos chegam a ficar 24 horas sem água nas torneiras.

A prefeitura atribuiu o déficit no abastecimento a um aumento de 30% no consumo em razão do calor. Admitiu, no entanto, que o sistema de distribuição está defasado e informou que investe para ampliar em 40% a capacidade. A cidade consome 142 milhões de litros por dia, média de 236 por habitante. A principal fonte de abastecimento, a represa de Itupararanga, está com o nível 20% mais baixo que o normal nesta época.

OESP, 06/02/2014, Metrópole, p. A18

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,grupo-anticrise-tentara-evi…

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http://www.estadao.com.br/noticias/geral,prefeitura-de-itu-decreta-raci…

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