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Grupo Agropalma mantem floresta intacta no Para

GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B14
04 de Mar de 2005

Grupo Agropalma mantém floresta intacta no Para
Reserva de 50 mil hectares está numa das regiões que mais sofreu alterações em sua biodiversidade
Raimundo José Pinto de Belém
Uma reserva florestal de 50 mil hectares localizada no leste do Pará e pertencente ao Grupo Agropalma, maior produtor de palma (dendê) da América Latina, é considerada como de altíssimo valor para os estudos de diversidade e de conservação, por ser o habitat de diversas espécies endêmicas da região, muitas delas raras ou ameaçadas de extinção. "Dentro deste contexto de alta importância biológica e alto impacto antrópico, as reservas florestais do Grupo Agropalma apresentam-se como áreas extremamente importantes para o conhecimento da diversidade de aves e mamíferos, especialmente aqueles considerados como ameaçados de extinção".
A declaração é do ornitólogo Luís Fábio Silveira, do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo e curador da Seção de Aves do Museu de Zoologia da USP. Ele coordenou os trabalhos de campo do estudo realizado por pesquisadores da USP e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pedido da Agropalma. O levantamento de aves e mamíferos ocorreu em dois períodos do ano passado, o primeiro nos meses de janeiro e fevereiro, de muitas chuvas na região, e o segundo em agosto a setembro, no período mais seco.
A reserva da Agropalma está situada no município de Tailândia, numa das regiões do Pará que mais sofreu alterações em sua cobertura florestal ao longo dos anos. Segundo Luis Fábio, é importante ressaltar que estas áreas preservadas no meio de uma matriz completamente descaracterizada, como em Tailândia, "são hoje fundamentais para a manutenção da biodiversidade". E que, se deixadas em paz e mantidas com todos os cuidados, "podem manter os processos ecológicos fundamentais para o ecossistema por um bom tempo".
Ameaçados de extinção
Os pesquisadores percorreram 119 quilômetros, tendo encontrado 338 espécies de aves (64% de toda a avifauna do leste do Pará) e 27 mamíferos de médio e grande portes. Das espécies de aves identificadas, seis são consideradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como ameaçadas de extinção, o que Pesquisadores corresponde a cerca de 60% encontraram das espécies de aves ameaçadas em toda a Amazônia brasileira.
São elas a ararajuba (Guarouba guarouba), tiriba-pérola (Pyrrhura lepida lepida), araçari-de-pescoço-vermelho (Pteroglassus bitorquatus bitorquatus), arapaçu-de-taoca-maranhense (Dendrocincla merula badia), arapaçu-barrado-do-nordeste (Dendrocolaptes certhia medius) mãe-de-taoca-pintada (Phlegopsis nigromaculata paraensis) e papagaio-moleiro (Amazonas farinosa). Quanto aos mamíferos, cinco espécies estão ameaçadas: caiarara (Cebus kaapori), a mais ameaçada, cuxiú-preto (Chiropotes satanas), gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e onça-pintada (Panthera onça).
O pesquisador da USP ressalta ainda que a alta riqueza de aves e mamíferos e o expressivo número de espécies ameaçadas de extinção, com destaque especial para a ararajuba, o cuxiú e o caiarara, "aumentam enormemente a importância dos fragmentos florestais pertencentes ao Grupo Agropalma".
Por isso ele recomenda a realização de estudos específicos sobre as espécies ameaçadas de extinção detectadas na área, "procurando novas localidades onde estas espécies ocorrem, dentro das reservas da empresa e que os fragmentos e as espécies ameaçadas sejam efetivamente protegidas contra caçadores e traficantes de animais silvestres".
Além das espécies encontradas pelos pesquisadores, os mateiros e guias que deram apoio ao trabalho deles, que já foram caçadores no 338 espécies de aves e 27 mamíferos de grande porte n floresta intacta no Pará passado, garantem que ainda existem naquela região, embora muito raras devido à caça, espécies como o jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis obscura) e o produz palma mutum-pinima (Crax fasciola pinima), também consideradas como ameaçadas de extinção. O mutum-pinima é uma ave de uma espécie considerada a mais rara do Brasil, não sendo vista e identificada com segurança desde a década de 1960.
"Um esforço concentrado e específico deve ser feito para se confirmarem estes registros na área do Grupo Agropalma. A presença destas espécies incluirá estes fragmentos florestais entre os mais importantes, senão um dos únicos, de toda a região amazônica para a conservação de aves ameaçadas de extinção, sendo fundamental a sua manutenção e manejo, para garantir a sobrevivência destas aves em um longo prazo. É importante ressaltar, se os mutuns e os jacamins ainda estiverem presentes na região, a porcentagem de aves amazônicas ameaçadas de extinção nas reservas do Grupo, Agropalma sobe para 90%, o que mostra por si só a importância destes fragmentos para a conservação das aves", diz Luis Fábio Silveira.
O Grupo Agropalma está no Pará há mais de 20 anos, com o plantio de palma e a produção de óleo para os mercados nacional e internacional, com um investimento que já ultrapassou os US$ 150 milhões. A empresa possui hoje mais de 32 mil hectares de área plantada nos municípios paraenses de Tailândia, Acará e Moju, a cerca de 150 quilômetros de Belém. Na capital estão instaladas a refinaria e a unidade de acondicionamento de gorduras e nos próximos dias entrará em operação a primeira unidade de produção do biodiesel a partir do óleo de palma. O grupo gera 2,8 mil empregos diretos.

GM, 04-06/03/2005, p. B14

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