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Groenlândia derrete em velocidade recorde

O Globo, Ciência e Vida, p. 48
11 de Ago de 2006

Groenlândia derrete em velocidade recorde

A gigantesca cobertura de gelo da Groenlândia, que responde por 10% das superfícies geladas da Terra, está derretendo três vezes mais depressa do que há dois anos e preocupa seriamente os cientistas. Especialistas atribuem o degelo ao aquecimento global.
Usando dados fornecidos por satélites da Nasa que medem variações na gravidade terrestre, cientistas da Universidade do Texas concluíram que a ilha está lançando 240 quilômetros cúbicos de gelo por ano no oceano. Isso significa que, desde o verão de 2004, a Groenlândia perdeu um volume equivalente ao do Lago Erie (um dos cinco grandes lagos na fronteira entre os EUA e o Canadá).
Os mesmos satélites registraram que a perda real - a quantidade de gelo derretido no verão menos o volume reposto no inverno - entre 2002 e 2003 havia sido de 80 quilômetros cúbicos.
- É preocupante constatar a velocidade com que a Groenlândia está lançando água no oceano - sustentou Byron Tapley, do Centro de Pesquisa Espacial da Universidade do Texas.
O estudo, publicado na "Science", confirma outros cálculos que já apontavam para a aceleração do derretimento do gelo na ilha e o relacionavam ao aquecimento global. Uma pesquisa publicada em maio também na "Science" já sustentava que o aumento das temperaturas do planeta estava elevando a velocidade do derretimento do gelo da Groenlândia. O novo estudo também é consistente com modelos computacionais de previsões de mudanças climáticas.
Se toda a cobertura de gelo da Groenlândia derreter - um processo que, segundo os cientistas, levaria séculos, mesmo se mantida a velocidade atual - o nível dos mares seria elevado em cerca de 6 metros globalmente, o que alagaria quase todas as regiões costeiras.
Precipitações na Antártica não aumentaram
Segundo Tapley, alterações nas correntes oceânicas provocadas pelo aumento do volume de água representariam um perigo mais iminente do que o aumento do nível dos mares. A corrente do Atlântico Norte, por exemplo, leva água mais quente dos trópicos para o norte da Europa, tornando o clima na região mais ameno.
Mas o lançamento de grandes volumes de água gelada no Atlântico Norte poderia alterar consideravelmente o equilíbrio dessa corrente condutora de calor. Paradoxalmente, o fenômeno tornaria a Europa - e a própria Groenlândia - muito mais fria.
Um outro estudo também publicado no último número da "Science" indica que durante os últimos 50 anos o acúmulo de gelo na Antártica se manteve invariável.
Cientistas acreditavam que, com o aquecimento global, as precipitações na Antártica iriam, paradoxalmente, aumentar (o ar quente gera mais neve porque comporta mais umidade), o que poderia atenuar o derretimento acelerado de gelo em outras partes do mundo.
- Não é o caso - afirmou Andrew Monaghan, da Universidade de Ohio, que analisou as precipitações de neve em 16 pontos da Antártica com um grupo internacional.

O Globo, 11/08/2006, Ciência e Vida, p. 48

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