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Grande primata pode sumir, alerta atlas

FSP, Ciencia, p.A7
03 de Set de 2005

Livro editado pelas Nações Unidas mapeia ameaças a habitat dos parentes mais próximos da humanidade
Grande primata pode sumir, alerta atlas
DA REDAÇÃO
Na mesma semana em que se anunciou o seqüenciamento do DNA do chimpanzé, um atlas lançado pelas Nações Unidas alerta: os grandes primatas estão com a corda no pescoço e podem desaparecer em pouco tempo se a perda de seus habitats -que estão em algumas das áreas mais pobres do planeta- não parar.
Os grandes macacos, como chimpanzés, gorilas, bonobos e orangotangos, são os parentes vivos mais próximos da humanidade. Eles habitam países pobres e freqüentemente em conflito, como Congo, Ruanda, Uganda, Costa do Marfim e Indonésia.
Segundo o Atlas Mundial dos Grandes Primatas e sua Conservação, publicado anteontem pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), em 2032, 99% do território dos orangotangos, na Ásia, terá sofrido impactos médios ou altos em decorrência de atividades humanas. No caso dos bonobos (Pan paniscus, uma das duas espécies de chimpanzé), o território afetado será de 96%; 92% para os próprios chimpanzés (Pan troglodytes); e 90% do território total dos gorilas (Gorilla gorilla).
A pobreza, a fragmentação de florestas causada pelo crescimento populacional e pela atividade madeireira, a explosão do comércio de carne de caça -que, na África, freqüentemente inclui chimpanzés-, doenças e mudanças climáticas são as principais ameaças aos animais.
"Temos o dever de resgatar nossos parentes mais próximos como parte de nossas responsabilidades mais amplas para com os ecossistemas que eles habitam", disse o chefe do Pnuma, Klaus Töpfer.
O Atlas diz que 16 dos 23 países que abrigam os grandes macacos têm uma renda per capita menor que US$ 800 (cerca de R$ 2.900) ao ano. Mais de uma dúzia de locais-chave, de Camarões à República Democrática do Congo, foram identificados como prioritários para a conservação de gorilas e chimpanzés, e mais lugares devem ser acrescentados à lista ao longo dos próximos anos.
Sete "locais excepcionais" têm populações de grandes macacos que excedem 2.000 indivíduos numa área grande (de 8.200 a 41,9 mil quilômetros quadrados). Cinco "locais importantes" têm populações de 500 a 2.000 indivíduos em áreas que vão de 1.200 a 9.000 quilômetros quadrados.
Verba
O atlas foi publicado no dia seguinte a um pedido de ambientalistas da ONG Conservação Internacional para um programa de cinco anos e US$ 30 milhões (R$ 70 milhões) para salvar a maioria das espécies ameaçadas na África, e no dia em que os cientistas que decifraram o genoma do chimpanzé pediram proteção especial para os grandes primatas.
Na Ásia, os orangotangos (Pongo pygmaeus) que habitam as ilhas de Sumatra e Bornéu devem perder metade de seu habitat nos próximos cinco anos, devido à ocupação humana das florestas e à atividade mineira.
"Em uma geração, sem uma proteção mais adequada, nós corremos o risco de ver a espécie dizimada a ponto de não poder mais sobreviver no ambiente", disseram Julian Caldecott e Lera Miles, editores do atlas.
O diretor-científico do Programa de Conservação do Orangotango de Sumatra, Ian Singleton, também faz uma previsão sombria: "Daqui a 50 anos, apenas sete das 13 populações de orangotango existentes devem resistir. Seis dessas populações consistirão em menos de 20 indivíduos."
Não são apenas as atividades humanas que ameaçam erradicar os grandes macacos. Doenças como o vírus ebola, que causa febre hemorrágica, também contribuem para acelerar seu declínio.
Com Reuters

Paz em Sumatra coloca em risco os orangotangos
DA REDAÇÃO
Depois das conseqüências devastadoras do tsunami e do fim de uma guerra separatista, a província indonésia de Aceh, na ilha de Sumatra, finalmente está passando por um período de reconstrução. Boa notícia? Não para os orangotangos da região, que podem ser empurrados para a extinção pelo processo, avaliam primatologistas como Ian Singleton.
"É uma faca de dois gumes", resume o pesquisador. "Com a paz, os orangotangos podem ser varridos do mapa." Segundo ele, a culpa é de uma combinação entre desmatamento ilegal e legal, ambos ligados à reconstrução e à necessidade de exportar madeira.
"Os orangotangos são muito sensíveis a mudanças", afirma Singleton. De acordo com o pesquisador, as autoridades indonésias estão cientes do problema e falam em controlá-lo. Mas há uma grande diferença entre os planos no papel e o que acontece na prática. "Há uma enorme pressão para enriquecer rápido, o que não é bom", avalia o cientista.

FSP, 03/09/2005, p. A7

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