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Governo vai esperar lei; os agricultores, nao

OESP, Geral, p.A14
29 de Set de 2004

Agricultores não vão esperar lei dos transgênicos
Mesmo que o governo espere a votação da Lei de Biossegurança, no RS eles plantarão a soja no dia 20
Elder Ogliari
PORTO ALEGRE - O polêmico vaivém da legislação dos transgênicos preocupa o agricultor gaúcho Paulo Bonfanti. Mas a indecisão do governo sobre uma medida provisória ou a aprovação da Lei de Biossegurança pelo Congresso não altera sua rotina e nem sua decisão de plantar 700 hectares de soja com a semente modificada geneticamente na propriedade da família, em Ibirubá, a 285 quilômetros de Porto Alegre.
"A meteorologia diz que temos de plantar lá pelo dia 20 (de outubro)", ressalta Bonfanti, referindo-se à recomendação técnica. "Clima é uma coisa, leis são outra." Se não puder plantar amparado pela legislação, Bonfanti vai fazer como pelo menos cem mil famílias gaúchas e semear a soja transgênica do mesmo jeito. Ele acredita que a liberação virá, seja por medida provisória, seja por lei aprovada no Congresso. Caso não venha, não há alternativa. "A única semente que temos é transgênica e nossa única atividade é cultivar a terra", avisa.
O que faz Bonfanti esperar mais três semanas para iniciar o plantio é somente o calendário agrícola. Parte do campo ainda está coberta com trigo, cevada, azevém, linhaça e aveia, culturas de inverno que serão colhidas até o início de novembro. Nos galpões da propriedade, os preparativos estão no fim. As três plantadeiras já foram revisadas.
Amostras das 49 toneladas de sementes de soja, guardadas da safra passada, já passaram pelos testes de germinação e vigor e receberão nos próximos dias o tratamento com fungicida, necessário para evitar fungos e pragas quando estiverem no solo. "Feito isso é só esperar o dia de plantar", informa Bonfanti.
Desde que começou a plantar soja transgênica, há seis anos, Bonfanti enumera vantagens. O agricultor diz ter observado um aumento da fauna na propriedade, cercada de riachos. "Passamos a ver mais pacas, jacus e patos selvagens." Bonfanti não revela os números do negócio, mas conta que graças à tecnologia ampliou a produção e dobrou a área plantada nos últimos dez anos.
Repercussão - Os dirigentes das Federações da Agricultura (Farsul) e dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) do Rio Grande do Sul mostraram-se preocupados com a informação de que o presidente Lula desistiu de enviar uma medida provisória ao Congresso autorizando o plantio da soja transgênica. Mas confirmaram que os agricultores que representam não vão mudar seus planos e semear o grão geneticamente modificado.
Carlos Sperotto, da Farsul, considerou que os anúncios e suspensões da medida provisória obedecem mais ao calendário eleitoral do que ao calendário agrícola. "As lágrimas da Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente) pesaram", ironizou, desafiando o governo a olhar para as lágrimas dos produtores, que nesta época do ano poderiam estar livres de preocupações e voltados apenas para suas plantações.
"Vamos plantar e a medida provisória virá depois", previu Ezídio Pinheiro, da Fetag, que também viu no recuo do governo uma tentativa de evitar eventuais desgastes antes das eleições do próximo domingo.
O porta-voz da Presidência da República, Andre Singer, confirmou ontem em Brasília que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não editará medida provisória para autorizar o plantio da soja transgênica na safra 2004/2005.
Segundo ele, a avaliação do governo é que o Congresso tem condições de decidir sobre a questão da biossegurança logo após as eleições de 3 de outubro. (Colaborou Tânia Monteiro)

OESP, 29/09/2004, p. A14

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