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Governo teme violência após morte de cacique

Estado de .S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: EDSON LUIZ
15 de Jan de 2003

Enterro será hoje e possibilidade de que seja na fazenda preocupa autoridades

A morte do guarani-caiová Marcos Veron, de 72 anos, pode aumentar a violência na região de Juti, em Mato Grosso do Sul. A avaliação é de integrantes do governo, que não descartam a possibilidade de confronto entre índios e fazendeiros. A Fundação Nacional do Índio (Funai) detectou ontem um problema entre os dois lados em Panambizinho, área perto de Dourados, a 50 quilômetros de Juti.

Veron comandou a invasão da Fazenda Brasília do Sul pela segunda vez, no sábado. Ele estava com 90 índios e teria sido surrado por dois homens. A primeira invasão ocorreu em abril de 1999, quando a propriedade foi praticamente destruída, segundo inquérito da Polícia Federal (PF).

De acordo com o laudo do médico legista Damacir Jiacomo, de Fátima do Sul, perto de Juti, Veron teve traumatismo craniano e ferimentos pelo corpo. O administrador do Núcleo da Funai em Dourados, Jonas Rosa, disse que pelo menos dez pessoas ficaram feridas. Os acusados negam ter agredido Veron, mas o Ministério da Justiça informou que a PF já pediu prisão preventiva de dois funcionários e do administrador da Brasília do Sul.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, determinou que a PF entre no caso e se mostrou preocupado. "Temos hoje três áreas com grandes problemas e uma delas é essa", disse, em Brasília.

Vias legais - "Nunca colocamos arma na fazenda e conseguimos a reintegração de posse, em 2001, pelas vias legais", disse em São Paulo a advogada Vanda Moraes Jacintho da Silva, mulher do dono da Fazenda Brasília do Sul, Jacintho Honório Silva Filho. Vanda criou uma ONG, a União em Defesa do Estado de Direito, após ter sua propriedade ocupada.

"Não queríamos violência, somos de paz."

Segundo os defensores da família, a acusação de que funcionários estão envolvidos na morte do índio são "infundadas". Eles afirmam que não houve confronto. Vanda disse que o grupo liderado por Veron é composto de índios desaldeados que querem fundar uma aldeia própria. A advogada desmentiu a versão de que a propriedade está no local onde havia uma aldeia.

Araldo Veron afirmou que hoje os índios vão enterrar seu pai na Fazenda Brasília do Sul, denominada por eles de Aldeia Taquara. Revoltados, os índios prometem novas invasões. "Não temos medo de conflito. Se for possível, reuniremos 5 mil índios", ressaltou.

Veron se dizia cacique da nação guarani-caiová. Segundo documentos, porém, era um paraguaio casado com brasileira, funcionário aposentado do Ministério da Agricultura. (Colaboraram Iuri Pitta e João Naves de Oliveira, especial para o Estado)

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