OESP, Nacional, p.A10
03 de Jul de 2004
Governo sofre nova derrota na novela Serra do Sol
Ministra do STF emite parecer contra demarcação contínua da área indígena
MARIÂNGELA GALLUCCI
BRASÍLIA - O governo sofreu ontem uma nova derrota judicial na polêmica demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, rejeitou pedido do Ministério Público Federal e manteve decisões anteriores da Justiça que excluíram da demarcação a faixa de fronteira com a Guiana e a Venezuela, o Parque Nacional Monte Roraima, os municípios, vilas, rodovias e plantações de arroz no extremo sul da reserva. A decisão final caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ellen argumentou que atender ao pedido do MP "causaria graves conseqüências de ordem econômica, social e cultural, bem como lesão à ordem jurídico-constitucional". Segundo ela, "a inclusão das comunidades tradicionais instaladas nas terras da Raposa Serra do Sol acarretaria, ainda, retrocesso econômico significativo".
No despacho, a ministra citou trechos da decisão anterior da Justiça, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região, que também era contrária à demarcação contínua. Segundo um dos trechos ressaltados, a homologação da área de forma contínua provocaria restrições no uso de rodovias e resultaria na extinção de 6 mil empregos de índios e não índios.
A tendência do Planalto e do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era de que a homologação da área fosse feita de forma contínua, acabando inclusive com a cidade de Uiramutã, que fica dentro da reserva, habitada principalmente pelos índios macuxis e uapixanas. A polêmica sobre a demarcação vem desde 1990 e se mantém no governo Lula.
Dentro do governo, porém, nunca houve consenso em torno do assunto. As Forças Armadas avaliam que a manutenção do povoamento da região ajudaria a garantir a segurança na faixa de fronteira norte do País. Os militares temem que a demarcação contínua contribua para um esvaziamento habitacional, tornando a área vulnerável à operação de traficantes de drogas e armas, além de ações de biopirataria.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem defendido a solução que prevê a demarcação contínua. Além de achar que isso pode ajudar a preservar a região, a ministra avalia que favoreceria também a manutenção das comunidades indígenas locais.
A área destinada à reserva é de 1,68 milhão de hectares ou 7,4% do território de Roraima. Sua demarcação ocorreu em 1993 e, desde então, a região passou a conviver com um clima de tensão. Fazendeiros, políticos e até um etnia indígena (os macuxis) são contra a demarcação contínua. A região se tornou forte produtora de arroz, sendo responsável por 10,25% do PIB de Roraima.
OESP, 03/07/2004, p. A10
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