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Governo quer combater a desnutrição na área indígena

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Lourival Macedo
15 de Out de 2003

Um grupo de trabalho interinstituicional formado por representantes do governo (Segurança Alimentar, Desenvolvimento Agrário, Funai, Funasa, Comissão Institucional de Saúde Indígena e Conselho Nacional de Saúde) e da sociedade civil está elaborando uma proposta para o combate à desnutrição na área indígena.

As maiores vítimas da desnutrição nas áreas indígenas são as crianças, onde a mortalidade infantil caiu nos últimos anos, mas os números ainda são altos. Em 1999, a cada grupo de mil crianças nascidas nas aldeias 140 morriam de desnutrição. Esse número foi reduzido em 2001 - 57,2 em cada grupo de mil nascimentos. No ano passado, a mortalidade caiu de novo para 48 crianças, enquanto a média de toda população foi abaixo de 30 para cada grupo de mil.

O Diretor do Departamento de Saúde Indígena (Desai) da Fundação Nacional de Saúde, Ricardo Chagas, disse que o grupo já realizou 14 reuniões em aldeias e outras duas ainda serão realizadas para a elaboração da proposta de combate à desnutrição indígena que será colocada em prática já em 2004. "A lógica da discussão está restrita à questão dos hábitos alimentares e da disponibilidade alimentar em cada aldeia", disse Chagas, adiantando que a partir desses resultados e propostas que estão sendo tiradas com as lideranças indígenas, professores, e por toda a comunidade silvícola é que o grupo vai elaborar uma proposta política para 2004.

A alimentação na área indígena não é uma questão tão simples como se imagina. Ao inserir outros alimentos que estão fora dos hábitos da população indígena pode ocorrer problemas de saúde. Ricardo Chagas cita o exemplo do sal de cozinha, que eleva a pressão sangüínea. Os índios utilizam outro tipo de sal, que é extraído do aguapé, que não eleva a pressão.

Da mesma forma, a farinha de trigo e o arroz não são alimentos do dia-a-dia da cultura alimentar indígena. "Por isso temos que ter muito cuidado na identificação do hábito alimentar e cultural dos índios, porque não é com a inserção de alimentos da nossa sociedade que vamos resolver o problema da subnutrição deles", disse Chagas. Ele informou que existe esse problema principalmente com os índios que vêm para a cidade e se alimentam da comida servida pelos brancos. Quando retornam às suas aldeias estão com problemas digestivos graves provocados pela alimentação diferente da que estão acostumados.

O diretor do Desai informou que a desnutrição é mais grave entre os índios que são mais coletores e caçadores do que produtores, pois a expansão da fronteira agrícola, com grandes extensões de plantação de soja, provoca problemas no meio-ambiente, como o ciclo da caça na região, provocando a escassez de alimentos para os povos que têm essa característica.

Para o vice-coordenador-geral indígena da tribo Xavante do Mato Grosso do Sul, Luís Xavante, a desnutrição nas aldeias indígenas é provocada pelo avanço da agricultura e da pecuária. "As grandes derrubadas para a agricultura e criação de gado é que acabam com a caça, a pesca e com as matas que alimentam os índios com frutos, raízes, folhas e fornecem o remédio para curar nossas doenças", disse Luís Xavante.

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