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Governo patrocina ato contra Palocci

JB, Pais, p.A3
19 de Nov de 2004

Governo patrocina ato contra Palocci
Sem-terra, sindicalistas e índios se unem em acampamento para pressionar equipe econômica. Planalto paga a conta
Hugo Marques
A partir de segunda-feira, 10 mil representantes dos sem-terra, sindicalistas e indígenas vão fazer o maior acampamento já construído em Brasília. Eles realizam a Conferência Nacional Terra e Água, que vai selar a unificação da luta de 44 entidades e movimentos sociais ligados à reforma agrária. O encontro, que pede a demissão do ministro da Fazenda Antonio Palocci, tem patrocínio do próprio governo.
Um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, que participará do evento, acusa o governo Lula de ter ''frustrado as expectativas'' e promete um 2005 mais do que vermelho.
- 2005 será não um ano vermelho, mas um ano colorido. As outras organizações, que têm as bandeiras brancas, vermelhas, verdes e azuis, possivelmente vão todas para a rua cobrar do governo os compromissos assumidos - diz João Paulo.
Esta nova fase de unificação de lutas dos movimentos sociais conta pela primeira vez com o apoio financeiro do governo. A Conferência Nacional Terra e Água será patrocinada pelos ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, além de oito empresas do governo, entre elas Petrobrás, Correios, Caixa Econômica Federal, Itaipu Binacional e Eletrobrás.
Segundo os representantes do Fórum Nacional pela Reforma Agrária, trazer 10 mil pessoas para uma conferência no centro de Brasília custaria pelo menos R$ 2 milhões. Os ministérios e as empresas do governo estão custeando alimentação, transporte, confecção de material gráfico e apoio logístico. O Ministério do Desenvolvimento Agrário vai fornecer as quentinhas.
Segundo os organizadores da conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve abrir ou fechar a programação. A unificação não é para pressionar diretamente o presidente Lula nem o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, visto como um parceiro pelos sem-terra. O alvo dos manifestantes é a equipe econômica - que não liberou os recursos prometidos pelo governo para a reforma agrária - e o modelo econômico administrado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
- Pedimos ao ministro Palocci que se demita do cargo. Caso contrário, o ano que vem vai ser marcado por grandes protestos na área social - ameaça João Paulo.
Os sem-terra já não acreditam na possibilidade de deslanchar uma reforma agrária massiva com o atual modelo econômico, que para eles privilegia a exportação, o agronegócio e o mercado financeiro. Os sem-terra decidiram fazer pressão contra a área econômica e ao mesmo tempo tentam não enfraquecer a figura de Lula. O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno, diz que o governo Lula frustrou as expectativas na área social e seria difícil mudar a realidade sem alterar o modelo econômico adotado.
- O governo está preocupado com superávit primário - diz dom Tomás.
A estratégia dos movimentos sociais unificados é realizar marchas conjuntas, invasões de terra e caminhadas. Outra mudança que deve ficar visível daqui em diante é a ocupação de prédios públicos. Uma das principais manifestações realizadas pelo MST esta semana foi a ocupação de um dos prédios da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), em Brasília. A empresa é ligada ao Ministério da Agricultura, mas para os sem-terra representa os interesses do agronegócio.

JB, 19/11/2004, p. A3

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