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Governo explode pistas de pouso clandestinas no Pará

JB, País, p. A6
11 de Fev de 2006

Governo explode pistas de pouso clandestinas no Pará
Primeira detonação foi feita em homenagem à missionária Dorothy Stang

São Félix do Xingu (PA)-Uma explosão de meia tonelada de dinamite - que pôs fim a uma pista de vôo clandestina no Pará - foi a forma encontrada pelo governo federal para homenagear ontem a memória da missionária americana Dorothy Stang. Amanhã faz um ano que ela foi assassinada em Anapu. Nos próximos dois meses, outras 33 pistas clandestinas no estado vão pelos ares e, junto com elas, o governo pretende retirar da região dezenas de fazendeiros e grileiros de terras, abrindo espaço para a floresta renascer na Estação Ecológica da Terra do Meio.
A nova estação ecológica é a maior do mundo, com 3,3 milhões de hectares, segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que esteve ontem no local da explosão com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A reserva está encravada no coração do Pará, entre os rios Xingu e Tapajós, cercada por uma dezena de terras indígenas. Além de tirar do papel o decreto presidencial de fevereiro do ano passado, que criou a estação ecológica, as explosões ajudarão a conter a ação livre do crime organizado na região.
- A idéia é acabar com as muitas entradas da estação ecológica. Após a primeira fase, de destruição das pistas, vamos fazer um trabalho nas estradas clandestinas e depois nos rios - disse Thomaz Bastos.
De início, alguns fazendeiros tentaram sabotar o trabalho da Polícia Federal. Em algumas pistas foram encontrados tambores, valas e até cabos de aço amarrados em árvores para tentar derrubar os aviões oficiais.
Agora, o governo espera que vários fazendeiros procurem as instituições públicas encarregadas de fazer a negociação para a desapropriação das fazendas.
O trabalho em torno da criação da reserva ecológica ganha apoio das pessoas simples da região, até entre aquelas que poderão ser afetadas com a falta de emprego. O governo procura dar atendimento a 500 famílias que vivem na região. Funcionário da fazenda Rio Catã, em São Félix do Xingu, o goiano Clóvis Souza Viana, de 43 anos, acha que a criação da nova estação é a única forma de impedir a ação dos grileiros, ''que não respeitam nem as faixas de mata nas beiras de rio''. Clóvis exalta o trabalho que foi realizado por Dorothy Stang no Pará.
- Ela defendia os sem-terra, fazia a mesma função daquele que morreu no Acre, o Chico Mendes - conta Clóvis.
Das 34 pistas que serão explodidas nos próximos dois meses pela Operação TM - referência a Terra do Meio - 23 estão no coração da nova estação ecológica e o restante nas margens da reserva. A PF destruirá um total de 44 pistas. Com a criação da nova área, o governo deve remover também um hotel de selva nas margens do Rio Iriri, em São Félix do Xingu.
A ministra Marina diz que o governo ''não vai baixar a guarda nem um milímetro'' para desobstruir a estação ecológica. A nova reserva não permite nenhuma atividade econômica, somente estudos científicos. A maioria das terras, segundo Marina, são públicas e não há necessidade de indenização. A ministra garantiu que o trabalho do governo na região antecedeu a morte da missionária Dorothy.
- A vida dela foi ceifada porque pela primeira vez o que as comunidades estavam propondo começou a se realizar - afirmou Marina.

JB, País, 11/02/2006, p. A6

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