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Governo discute como reduzir emissões em plano nacional de eficiência energética

Valor Econômico, Brasil, p. A2
Autor: CHIARETTI, Daniela
29 de Set de 2016

Governo discute como reduzir emissões em plano nacional de eficiência energética

Daniela Chiaretti

Um plano nacional de eficiência energética está em gestação no governo e vem sendo formatado na Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A iniciativa é estratégica e necessária. Em sua meta de redução de emissões de gases-estufa, conhecida por NDC, o Brasil se comprometeu em reduzir, em 2025, suas emissões em 37% em relação aos níveis de 2005, e indicou um corte de 43% para 2030 com a mesma base de referência.
A meta, que engloba o conjunto da economia e tem várias vertentes, prevê 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030. Se se sabe onde se quer chegar, não se tem ideia do ponto de partida. Não há estimativas de qual o percentual atual da eficiência energética na matriz brasileira e nem quanto custará cumprir a meta que o Brasil promete alcançar.
Não se está partindo do zero, contudo. Desde 2000, por exemplo, o país tem uma política de estímulo à pesquisa e desenvolvimento e eficiência energética com a aplicação compulsória da receita operacional líquida das distribuidoras de energia. Em 2015, isso significou R$ 580 milhões para eficiência energética.
"Temos as diretrizes macro, mas precisamos de um plano com ações mais concretas", reconhece Luis Fernando Badanhan, coordenador-geral de Sustentabilidade Ambiental do Setor Energético do Ministério de Minas e Energia.
O tema foi debatido na terça-feira, no Rio, durante o seminário "O Papel da Eficiência Energética na Economia de Baixo Carbono no Brasil", promovido pela EPE e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), que atua com mudanças climáticas.
"Temos uma série de desafios para implementar a NDC", disse o engenheiro químico Jeferson Soares, superintendente de estudos econômicos e energéticos da EPE. "Será necessário ter um plano para fazer a meta acontecer. Estamos agora dando a partida."
As iniciativas brasileiras em eficiência energética são dispersas e descoordenadas. "O Brasil é interessante em termos de mecanismos de estímulo. Mas se somos bons em criar programas, somos ruins em torná-los perenes", diz o professor da Unicamp Gilberto Jannuzzi. "A implementação é pífia. Não basta dizer que queremos ter 10% de eficiência energética. Precisamos saber como chegar lá", afirma Jannuzzi, que dirige a International Energy Initiative, ONG que trata a questão pela ótica dos países em desenvolvimento.
Para Ana Toni, diretora-executiva do iCS, "o Brasil, infelizmente, é dos países mais improdutivos, em termos de eficiência energética. Temos que mudar esta dinâmica." Ela lembrou que, no futuro, não será "tão fácil manter nossa matriz energética limpa como é hoje". E questionou: "Quem ganha com a nossa ineficiência energética? Por que [as iniciativas nesta direção] não deram certo no passado?".
Luiz Augusto Barroso, presidente da EPE, lembrou que "a vida das hidrelétricas ficará mais complicada, o que criará mais espaço para as renováveis e uma oportunidade de ouro para a eficiência energética." Ele recomenda que se pense "grande". Nessa linha de raciocínio, imagina leilões de eficiência energética no futuro: "Por que não comprar o direito de redução de demanda?". Tais leilões não são novidade no mundo e já foram estudados no Brasil no passado.
A mecânica, explica o presidente da EPE, é simples. "Haveria uma oferta para uma redução de demanda por determinado período, e quem oferecesse o menor preço por este recurso seria selecionado." O problema é o depois, ou seja, como verificar se o que se prometeu em economia no consumo de energia foi cumprido. Aqui está a fragilidade do processo, ao menos por enquanto, no Brasil. Barroso reconhece que leilões de eficiência energética não estão nos planos no momento. "Mas é algo a ser pensado."
Coube a Linda Murasawa, superintendente de sustentabilidade do Santander Brasil jogar água fria na platéia ao falar sobre o papel do investimento privado na eficiência energética. O sistema, hoje, exclui os médios e pequenos empreendedores, advertiu, e a atual crise econômica e política afasta o investidor externo. "O Brasil retrocedeu 10 anos economicamente e levará 20 anos para se recuperar. Perdemos uma geração", disse.
A repórter viajou ao Rio a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

Para diretor da AIE, "a energia mais limpa é a que não usamos"

Daniela Chiaretti

"A energia mais barata e mais limpa que existe é aquela que não usamos", diz o irlandês Brian Motherway, chefe da divisão de eficiência energética da Agência Internacional de Energia (AIE), referindo-se a uma forma clássica de definir seu campo de trabalho. "Eficiência energética precisa ficar no centro e na frente das economias em crescimento."
Motherway falou no seminário de eficiência energética realizado no Rio. Em 2015, segundo dados da AIE, os investimentos em eficiência energética alcançaram US$ 200 bilhões. Nos últimos dez anos, graças aos novos padrões de eficiência dos carros, o mundo tem conseguido economizar 2 milhões de barris de petróleo diários.
"Entre 40% a 50% de tudo o que teremos que fazer para cumprir as metas do Acordo de Paris terá que vir da energia", disse ao Valor. "Eficiência energética é a opção mais barata. Muito mais do que construir usinas." O potencial mundial do que os técnicos chamam apenas por EE, afirma ele, é fantástico e, se custa mais, garante retorno do investimento. "Estamos a menos da metade do caminho do que seria possível."
Nos cenários traçados pela AIE há 20 recomendações e 5 focos principais a serem trabalhados, em termos de eficiência: ter políticas transversais; mirar na transformação das edificações; investir na iluminação e nos equipamentos; nos transportes e na indústria.
"São questões universais, é uma conversa global", disse Motherway. Ele lembra que o ganho que a China terá com eficiência energética, em termos de redução de emissões de gases estufa, é maior do que as emissões de uma economia como o Japão.

Valor Econômico, 29/09/2016, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/4729195/governo-discute-como-reduzir-emi…

http://www.valor.com.br/brasil/4729197/para-diretor-da-aie-energia-mais…

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