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Governo descarta reduzir área do Itatiaia

FSP, Ciência, p. A15
22 de Jun de 2009

Governo descarta reduzir área do Itatiaia

Proposta de donos de imóveis localizados dentro do 1o parque nacional é refutada pelo Ministério do Meio Ambiente
Questão fundiária, porém, não será resolvida; ministro diz que morador não precisa sair, entretanto não poderá deixar casa como herança

AFRA BALAZINA

O primeiro parque nacional do país não perderá o seu "coração". Segundo o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), a ideia de reduzir a área do Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro, "morreu, acabou".
A proposta era defendida pela AAI (Associação Amigos do Itatiaia) -que congrega veranistas e pessoas que moram ou têm hotéis no parque. Se a sugestão fosse aceita, o local em que Getúlio Vargas inaugurou a pedra fundamental do parque, o centro de visitantes e até a sede administrativa acabariam ficando fora do Itatiaia.
Foi em razão da proposição da AAI que o ministro ordenou que o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) fizesse um estudo sobre a situação do parque. E, a partir desse documento, tomou sua decisão.
A área que a AAI queria ver fora do parque representava 4,3% do Itatiaia. Apesar de pequena se comparada ao total (30 mil hectares), a região concentra boa parte das belezas naturais que atraem cientistas e turistas ao local -a cachoeira Véu de Noiva, com 40 metros de altura, é uma delas.
Para Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, a decisão do ministro é uma ótima notícia para o "parque de maior potencial do Brasil". "Estou realizado. A definição deve diminuir a tensão na área e dá estabilidade para a gestão do parque", afirmou.
Aliviado, o diretor do parque, Walter Behr, considera que a posição do ministro "abrirá um precedente positivo" -outros parques também sofrem pressões para serem reduzidos.

Situação fundiária
Ambientalistas defendem que os proprietários que têm direito sejam indenizados e deixem o lugar. Existem hoje cerca de 80 terrenos particulares com casas dentro do parque (além de terrenos sem construções) e mais cinco hotéis.
Mas a questão fundiária não será resolvida. "Eu estava entre a espada e a parede", disse Minc, que não queria comprar uma guerra com ambientalistas que defendiam a manutenção do parque nem com os proprietários. "Sou frequentador do parque. As pessoas [que vivem ou tem casas de veraneio ali] são do bem, ajudam a preservar", afirmou.
Entre os donos de hotéis está o prefeito da cidade de Itatiaia, Luiz Carlos Bastos (PP), a quem o ministro chama de amigo. Minc diz já ter ficado hospedado no empreendimento do político, o hotel do Ypê.
Então, o ministro decidiu por uma "solução indolor, suave". Assinará amanhã um ato administrativo com novas regras para o parque que serão anexadas ao plano de manejo da unidade de conservação.
"As pessoas que estão lá vão ficando lá. Mas não podem deixar [as casas e hotéis] para seus descendentes. Quando morrerem, isso fica para o parque", disse Minc, sem explicar como tal transferência seria feita.
Outra opção que os moradores e veranistas têm, afirma o ministro, é vender o terreno e benfeitorias para a União.
"Se quiserem vender, compraremos imediatamente pelo preço de mercado."
Para desapropriar todas as casas, terrenos e hotéis, ele calcula que o gasto do governo seria de R$ 80 milhões.

Terceirização
O parque é dividido em parte baixa e alta. A porção que era reivindicada pela associação é a baixa -os proprietários queriam 1.300 hectares de um total de 1.510. Na parte alta fica outra grande atração turística: o pico das Agulhas Negras.
Entre as novas determinações está a proibição da entrada de carros no parque -a intenção do ministro é colocar ônibus elétricos para circular. Outro ponto é a terceirização de serviços como canoagem e arvorismo (que serão licitados).

Prefeito diz que região tem feição urbana

O prefeito de Itatiaia, Luiz Carlos Bastos (PP) defende a redução do parque do Itatiaia sob a justificativa de que a parte baixa já tem feições urbanas -possui linha de ônibus regular, recolhimento de lixo e rede elétrica, por exemplo.
O parque nacional foi o primeiro criado do Brasil, em 1937. Mas sua situação fundiária nunca foi resolvida.
Os primeiros moradores pertenciam a um ex-núcleo colonial criado para incentivar a agropecuária na região.
Segundo Bastos, o antigo núcleo colonial iniciou a recuperação da mata na região, degradada pela criação de gado.
Ambientalistas dizem que os moradores acabaram vendendo suas áreas e que, hoje, não há habitantes originais do ex-núcleo no parque. O problema fundiário se agravou com os anos -novas construções foram feitas e houve o parcelamento irregular de lotes.
Segundo a administração do parque, das cerca de 80 propriedades com casas, somente dez são de famílias que efetivamente moram no local -as demais são de veranistas.
A reportagem tentou ouvir ontem a AAI, sem sucesso.

FSP, 22/06/2009, Ciência, p. A15

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