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Governo decide descolar 2000 militares para o Para

FSP, Brasil, p.A11
16 de Fev de 2005

Governo decide deslocar 2.000 militares para o Pará
Informado de novas mortes, Lula deve antecipar sua volta
Eduardo ScoleseIuri DantasDa sucursal de Brasília
O governo federal decidiu enviar ao Pará 2.000 militares do Exército para tentar controlar os focos de tensão no Estado, diante da onda de assassinatos no campo que vem ocorrendo na região desde o último sábado. As tropas serão deslocadas de Marabá, Belém e Manaus para a região, principalmente para Anapu.Para acompanhar de perto os desdobramentos da situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje à tarde em Brasília, antecipando em pelo menos seis horas o retorno de sua viagem ao Suriname.As polícias Federal e Rodoviária também vão aumentar seus efetivos nas regiões de conflitos de grileiros e madeireiros com a população local e trabalhadores rurais, mas ainda não há um número exato de efetivo. Paralelamente, o governo do Estado vai deslocar homens das polícias Civil e Militar para as mesmas áreas.Ontem, o dia foi tomado por reuniões entre os membros do primeiro escalão do governo, que discutiam as medidas a adotar enquanto chegavam notícias de dois outros assassinatos ocorridos no Pará. A última reunião começou no início da noite no Planalto. Ao final do encontro, foi divulgada uma nota oficial informando sobre a ação imediata do Exército.O governador do Estado, Simão Jatene (PSDB), começou o dia no Palácio do Planalto a portas fechadas com 12 ministros, entre eles o da Defesa, vice-presidente José Alencar, o da Casa Civil, José Dirceu, e o da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.Nesta reunião, pela manhã, ficou decidido o envio de tropas para o Estado. Alencar, que exerce interinamente a Presidência da República, preferiu conversar com Lula, por telefone, e com o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, antes de anunciar a decisão.No fim da tarde de ontem, Lula foi informado das novas mortes por telefone e decidiu antecipar a volta da viagem.A possibilidade de enviar tropas ao Pará vinha sido discutida desde o final de semana, mas o governo optou por não divulgá-la oficialmente antes pois, segundo a Folha apurou, avaliava que a informação poderia causar uma série de assassinatos na região, caso fosse disseminada antes da chegada das tropas. Ou seja: há o temor de um clima de acerto de contas antes que os militares cheguem ao Estado.Em diversas entrevistas concedidas ontem, os ministros combinaram o discurso ao dizer que o governo federal vem fazendo sua parte na forma de assentamentos e combate ao desmatamento. As reiteradas queixas de ausência do Estado na região centro-oeste do Pará foram minimizadas.Desde sábado, pelo menos quatro pessoas foram mortas a tiros no Estado em conflitos motivados por disputas pela terra, entre elas a freira norte-americana Dorothy Mae Stang, 74, crime que causou repercussão internacional e fortaleceu ainda mais o rótulo de impunidade do país.O Pará lidera as estatísticas de assassinatos no campo no país. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, 521 pessoas foram assassinadas entre 1985 e 2003.O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, disse que decidirá dentro de duas ou três semanas se irá pedir ou não a transferência para a área federal da investigação sobre o assassinato da irmã Dorothy, mas sinalizou que pretende tomar essa iniciativa.Sem pacote Ontem, em entrevista, o ministro José Dirceu, que coordenou a reunião, disse que não é necessário nenhum "pacote" para combater a violência no Pará. Segundo ele, a morte da freira foi uma "uma reação" ao trabalho do governo. Ele admitiu, porém, a necessidade de um reforço policial."O governo não vai anunciar um pacote, não vai organizar força-tarefa porque a questão é permanente, não é conjuntural. O que nós precisamos é ir consolidando a política de zoneamento, de regularização fundiária, de combate à ilegalidade e aumentar a presença permanente da polícia Civil, Militar e Federal no Estado do Pará e na Amazônia."

FSP, 16/02/2005, p.A11

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