VOLTAR

Governo Bush censurou relatório sobre aquecimento

OESP, Vida, p. A20
27 de Set de 2006

Governo Bush censurou relatório sobre aquecimento
Documento colocaria em xeque decisões políticas tomadas pelos EUA

O governo Bush impediu a divulgação de um relatório que sugere que o aquecimento global contribui para uma maior freqüência e força dos furacões, denuncia a revista científica Nature.

A possibilidade de que o aquecimento do clima possa provocar tempestades mais potentes gerou debates entre especialistas, especialmente após o desastre do furacão Katrina, que arrasou New Orleans no ano passado.

No caso em questão, a Nature afirma que especialistas da Administração Nacional de Atmosfera e Oceano (NOAA) - parte do Departamento de Comércio do governo americano - haviam formado um comitê, em fevereiro, para elaborar um relatório de consenso sobre a visão dos cientistas da agência sobre a relação entre furacões e aquecimento global.

Segundo a Nature, uma prévia do documento afirmava que as temperaturas mais elevadas poderiam estar estimulando as tempestades. Em maio, quando o relatório estava pronto, o presidente do comitê, Ants Leetmaa, recebeu um e-mail de uma autoridade do Departamento de Comércio dizendo que o trabalho estava técnico demais e que não deveria ser liberado para o público.

O porta-voz da NOAA, Jordan St. John, único localizado ontem para comentar o assunto, disse desconhecer detalhes do relatório. Segundo a Nature, o administrador da NOAA, Conrad Lautenbacher, declarou que o relatório havia sido elaborado apenas para consumo interno e que não seria liberado porque a agência não poderia assumir uma posição oficial no debate. Mas a revista afirma que o relatório era apenas uma discussão da ciência sobre furacões, e não continha posicionamento sobre políticas a adotar.

MARCAÇÃO CERRADA

Nos Estados Unidos, a questão dos efeitos negativos do aquecimento global é politicamente delicada porque o governo Bush resiste em tomar medidas para reduzir a poluição que agrava o efeito estufa. Vale lembrar que o país não é signatário do Protocolo de Kyoto, mecanismo internacional que tem por objetivo o corte de emissões de gases do efeito estufa.

Em fevereiro, um funcionário do setor de relações públicas da Nasa teve de se demitir depois de ser acusado de tentar restringir o acesso da mídia a James Hansen, o principal especialista em mudança climática da agência espacial americana.

Hansen, que dirige há anos o Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa, afirmou à época que a campanha de censura começou logo após ter feito um discurso pedindo a rápida redução dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Textos de suas conferências e de artigos para publicação no site do instituto eram submetidos a revisão prévia.

OESP, 27/09/2006, Vida, p. A20

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.