OESP, Nacional, p.A7
01 de Dez de 2003
Governador de RR demite secretários denunciados
PF investiga esquema de desvio de salários, que já resultou em 44 prisões
Edson Luiz
Enviado especial
A Polícia Federal encontrou indícios de que o esquema da folha de pagamento paralela em Roraima, durante o governo Neudo Campos, continuou a ser executado por seu atual governador, Flamarion Portela (PT), que era o vice e assumiu o mandato em abril de 2002. Mesmo assim, a PF ainda não decidiu como agir com relação a Portela. Na sexta-feira à noite, ele demitiu 4 secretários que também foram citados em depoimentos das principais testemunhas do caso, Carlos Eduardo Levischi e Sônia Pereira Nattrodt.
Ontem, as 44 pessoas que estão na Cadeia Pública de Boa Vista tiveram suas prisões temporárias prorrogadas pela Justiça.
Os principais indícios foram fornecidos à PF por alguns acusados que decidiram colaborar em troca da revogação de suas prisões. Além de Portela, a PF encontrou fortes indícios contra sua ex-chefe do Gabinete Civil, Diva da Silva Briglia. Esta mesma secretaria ficou até sexta-feira sob comando de Waldemar Mutran Paracat, também exonerado do cargo, assim como Diva, o ex-secretário da Fazenda Joci Mendes e a titular da secretaria de Articulação Municipal, Vera Regina.
Bilhetinhos - "Todas as pessoas que quiserem colaborar terão suas prisões revogadas", afirma o delegado federal Júlio César Baida, que preside 40 inquéritos instaurados para apurar o desvio de cerca de R$ 320 milhões pela "folha gafanhoto", como é chamada em Roraima a folha paralela. Segundo Sônia Nattrodt, que até o ano passado era a responsável pela folha de pagamento do Estado, era Diva quem coordenava a "conta gafanhoto", onde incluía nomes de pessoas indicadas verbalmente ou por meio de bilhetinhos de políticos.
A PF mantém sob sigilo o teor de alguns dos depoimentos. A intenção é deixar que as investigações sejam centralizadas em torno dos demais acusados, deixando a apuração em torno de Portela para a frente, evitando que o inquérito seja transferido para o Superior Tribunal de Justiça, que tem competência para julgar governadores.
Portela nega as acusações e as atribui à extinção do Departamento de Estradas de Rodagem, então dirigido por Carlos Eduardo Levischi.
Pedido bloqueio de bens de Neudo e outros acusados
PF localiza casa suntuosa de ex-governador na fronteira com Venezuela
A Polícia Federal pediu o seqüestro dos bens do ex-governador Neudo Campos e dos principais envolvidos no esquema da folha de pagamento paralela em Roraima. Entre os bens está uma suntuosa casa localizada na pequena cidade de Pacaraima, na fronteira entre o Estado e a Venezuela. Com cinco quartos e duas grandes salas, o imóvel era visitado todo fim de semana por seu proprietário, que chegava de helicóptero.
Esta semana, a PF vai fazer uma devassa em todos os cartórios de Boa Vista para averiguar quais os imóveis que estão em nome do ex-governador, além das casas de Pacaraima e de Boa Vista. Além de Neudo, outros acusados, principalmente alguns ex-deputados que também estão presos, passaram a ostentar sinais visíveis de riqueza, principalmente relacionados a imóveis.
Um parlamentar, Jaisel Padilha, cuja mãe e mulher estão presas por terem sido procuradoras de alguns laranjas, conhecidos em Roraima por gafanhotos, tem uma das mais luxuosas casas na capital do Estado. O piso de um dos quartos é um grande aquário.
Segundo a PF, muitos imóveis - casas, fazendas e terrenos -, estão em nome de laranjas. "Vamos verificar nos cartórios se há bens em nomes de terceiros, que também serão alcançados pelo bloqueio", informou o delegado Júlio César Baina.
No caso de Neudo, além de correr o risco de ter sua casa em Pacaraima entre os bens seqüestrados, pode passar por outro constrangimento: a cidade está localizada em área indígena - Reserva de São Marcos - e todos os moradores do local deverão sair até o início do próximo ano. (E.L.)
OESP, 01/12/2003, p. A7
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