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Governador acusa ONGs de incitar violência

O Globo, O País, p. 11
02 de Jun de 2008

Governador acusa ONGs de incitar violência
Cimi diz que grupo de ultradireita quer acabar com reservas

Vozes como a do governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), afirmam que, por trás dos protestos indígenas, estariam ONGs estrangeiras e brasileiras aliadas a grupos e até governos estrangeiros.
- Não há intenção de acabar com as reservas, mas criar áreas mais justas. De que adiantam essas extensões de terras indígenas sem recursos? Sou a favor de uma revisão nacional - disse o governador de Roraima.
O país tem hoje 488 terras indígenas (nem todas regularizadas), com 105.673.003 hectares, equivalentes a 12,41% do território nacional. Segundo o Censo, o país tem 730 mil indígenas, 460 mil em reservas, além de 63 tribos nunca contatadas. No total, são 225 sociedades indígenas.
Organizações como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), da Igreja Católica, e o ISA (Instituto Sócio Ambiental), que apóiam indígenas, são acusadas de incitá-los a episódios violentos, como o dos caiapós em Altamira (PA), onde um engenheiro da Eletrobrás foi atacado.
- As ONGs têm acirrado muito, e a questão da soberania é muito séria -- disse o governador de Roraima.
Até grupos apontados como de ultradireita alimentam a polêmica. O mexicano radicado no Brasil Lorenzo Carrasco, do Movimento de Solidariedade Ibero-Americana, aumentou a venda de livros como "Máfia verde" e tem multiplicado suas palestras em áreas de conflito.
- É preciso integrar os indígenas, acabando com seu confinamento em reservas. Diziam que tínhamos visão paranóica.
Agora, muita gente importante começou a se interessar - afirma Carrasco, identificado pelas ONGs como de ultradireita.
Funai: "Índios estão preocupados, com razão"
O Cimi, por sua vez, denuncia que está em curso uma rearticulação de extrema direita, ligada a militares da reserva e a grupos econômicos empenhados em acabar com as reservas.
- Querem transformar o índio em camponês pobre ou sem-terra, passando por cima de seu direito à cultura -- afirma o assessor do Cimi, Paulo Maldos.
Para André Villas, indigenista do ISA, há três motivos de acirramento: o recrudescimento dos direitos territoriais, a precariedade da assistência governamental e o modelo de desenvolvimento do governo Lula:
- Há paranóia excessiva. A demonização das ONGs é descabida. Há empresas que lavam dinheiro, políticos que roubam e ONGs que erram. Nem por isso todas as empresas, políticos e ONGs são desonestos - disse.
O diretor de Assistência da Funai, Aloysio Guapindaia, afirmou que a Funai não tem indicativo de que há acirramento externo dos indígenas:
- Os movimentos são isolados. Há um passivo muito grande. Eles reclamam da demora da Funai, da Funasa, da falta de atendimento em saúde. Estão preocupados, e com razão.

O Globo, 01/06/2008, O País, p. 11

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