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Gigante na floresta

CB, Ciência, p. 24
07 de Ago de 2009

Gigante na floresta
Torre de 300m de altura vai monitorar mudanças climáticas na Amazônia. Iniciativa é essencial para cientistas entenderem a ação do homem no meio ambiente

Gisela Cabral

Imagine uma estrutura metálica com aproximadamente 300 metros de altura, semelhante à torre Eiffel, um dos cartões-postais mais famosos de Paris, na França. Agora, pense nessa mesma estrutura, instalada em plena Floresta Amazônica, no Brasil. Se depender do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA) a façanha vai virar realidade até o fim do ano que vem, por meio do projeto Observatório Amazônico de Torre Alta (Amazon Tall Tower Observatory - ATTO), uma parceria firmada entre os governos brasileiro e alemão. A iniciativa vai possibilitar a captação de informações a pelo menos mil quilômetros de distância, essenciais para que pesquisadores de ambos os países entendam melhor o papel do ecossistema amazônico tropical, diante das atuais condições climáticas do planeta.

O ATTO fará parte de um complexo de torres menores já existentes, responsáveis pelo monitoramento de diversas ocorrências entre a atmosfera e a floresta. De acordo com o pesquisador Antônio Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), órgão responsável pelo LBA, ao lado da torre gigante ainda serão instaladas mais quatro menores, de até 80 metros - estas vão ficar a mais ou menos 100 metros de distância da maior. "Pesquisas do LBA que investigam a ciclagem de nutrientes e monitoram a vegetação, serão desenvolvidas por meio de sensores de superfície que ficarão ao redor dessas torres. Eles servirão de suporte para todo o estudo", afirma Manzi.

Além da contribuição brasileira, integram o projeto representantes do governo alemão, por meio do Instituto Max Planck de Química - entidade científica dedicada ao estudo do meio ambiente, interessada, principalmente, nas interações químicas que se dão entre a floresta e a atmosfera. Na última terça-feira, por exemplo, o Inpa designou uma equipe de pesquisadores, dos lados brasileiro e alemão, para estudar a viabilidade do local onde, possivelmente, será implementada a torre: a reserva biológica de Uatumã. "São necessárias várias análises do solo. Para se ter uma ideia, a reserva fica a mais ou menos 250km de Manaus. Para chegar até lá é preciso enfrentar um trecho de terra, feito com carro tracionado nas quatro rodas, e outro pelo rio, de barco", explica.

O pesquisador alemão Jochen Schoengort conta que o Instituto Max Planck auxilia o LBA desde o início, em 1998. Ele, inclusive, é um dos responsáveis pela análise do local que pode vir a sediar o ATTO. Conforme Schoengort, os pesquisadores já fizeram um sobrevoo pela região, que possibilitou a realização de um acervo fotográfico. Porém, durante a expedição será possível detectar os pontos onde a estrutura deve ser instalada. "É essencial um local onde haja a possibilidade de transporte de combustível, aparelhos de laboratórios, entre outros. A reserva de Uatumã, por exemplo, é o lugar que preenche estes requisitos", diz.

De acordo com ele, o entendimento dos processos das trocas gasosas, de energia, entre várias outras informações serão essenciais para a ciência. "No futuro, os dados serão importantes para que todos percebam o verdadeiro papel da Floresta Amazônica no mundo", afirma. Além disso, as informações coletadas, segundo ele, serão de grande utilidade para os gestores públicos, que precisam de bases reais para a tomada de decisões em prol do meio ambiente. Participam ainda do projeto o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas, as Universidades de São Paulo (USP) e do Estado do Amazonas (UEM), além da Cooperação Técnica da Alemanha, entre várias outras entidades.

Solução

Enquanto as torres da Amazônia não ficam prontas, estão em curso outros projetos que visam colaborar para o futuro do meio ambiente. Entre eles está uma iniciativa do Inpe que deve entrar em vigor até o final desse mês. O sistema batizado de detecção de exploração seletiva (Detex) consiste num novo método de vigilância por satélite, que tem o objetivo de monitorar o desflorestamento causado pela exploração seletiva de madeira nas florestas brasileiras, entre elas a Amazônica.

Segundo o órgão federal, o sistema pode verificar, inclusive, se os madeireiros, previamente autorizados para exercer aquela atividade, andam respeitando as normas ambientais. É bom lembrar, porém, que só são exploradas árvores apropriadas para fins comerciais. A ferramenta ainda tem o objetivo de complementar os dados fornecidos por outros sistemas já implementados pelo Inpe, porém com imagens bem mais definidas. Setores responsáveis pelo controle da exploração madeireira no país, como o Serviço Florestal Brasileiro, ou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), seriam os maiores beneficiados deste novo recurso.

CB, 07/08/2009, Ciência, p. 24

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