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A gestão integrada da água

GM, Energia & Abastecimento, p. C4
Autor: PAES, Vlamir
06 de Out de 2005

A gestão integrada da água

Vlamir Paes

O suprimento de água em volume, qualidade e custos, assim como a necessidade de implantação do sistema de reuso dos recursos hídricos, tornaram-se definitivamente questões estratégicas para as indústrias em âmbito nacional. Apesar da possibilidade de uma crise de abastecimento, muitos empresários não atentaram para a importância da gestão integrada da água, não apenas como fator de otimização de serviços e da relação custo-benefício do seu negócio, mas também como forma de cuidar da preservação ambiental e atender a legislação.
Acredita-se que o planeta disponha de grande quantidade de água e, portanto, trata-se de um recurso inesgotável. Mas, torna-se irrevogável a necessidade de gerir estrategicamente esse recurso. As razões são mais do que convincentes. Embora a água seja a substância mais abundante do planeta, 97,3% dela é salgada, imprópria para o consumo. Os restantes 0,6% de água doce (2,1% formados por geleiras) correspondem a reservas que podem ser exauridas nos próximos 20 anos face ao crescimento populacional, industrial e tecnológico nas grandes cidades.
A matemática é simples: quanto maior o número de pessoas e empresas, maior o consumo de água e a poluição gerada por efluentes, popularmente chamados de esgotos, que pioram cada vez mais as condições dos mananciais disponíveis. São necessários oito litros de água para despoluir um único litro de esgoto.
O Brasil possui cerca de 11% da água doce do mundo, mas a maior parte desse percentual está na região da Amazônia, habitada por apenas 8% da população brasileira. A região Sudeste concentra 43% do contingente populacional do país e conta com apenas 6% dos recursos hídricos disponíveis. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a demanda de água supera em muito a capacidade de abastecimento, sendo necessário buscá-la cada vez mais longe.
O setor industrial está entre os que mais sofrem com a crise de abastecimento. Para entender por que os efeitos da escassez do recurso são tão prejudiciais ao setor, basta considerar que uma única siderúrgica chega a consumir uma quantidade de água equivalente à de uma cidade de 500 mil habitantes.
Nesse contexto, a gestão inteligente dos recursos hídricos, que leva em conta programas e técnicas de reuso da água e "descarte zero" (utilização da água mais de uma vez com reaproveitamento total, para o mesmo ou outro fim após ter passado por tratamento), passa a ser uma preocupação também de empresários e não só de ativistas ecológicos.
Hoje, as indústrias têm gastos tanto para coletar a água do meio ambiente quanto para, depois, lançar os efluentes, sem contar o grande desperdício que ocorre durante o uso. No caso do desenvolvimento de um sistema de tratamento de água com reutilização também há custos, porém geridos de forma inteligente, pois o efluente será tratado e poderá ser reutilizado dentro do próprio sistema.
A boa notícia é que o segmento privado de saneamento está se expandindo no Brasil e já existem no mercado empresas especializadas em soluções terceirizadas de gestão de recursos hídricos, baseadas em parce-rias de longo prazo e focadas na redução de custos e na preservação ambiental. Cases bem-sucedidos de empresas que contratam o sistema terceirizado de tratamento de água, com uma ex-pressiva redução de gastos, comprovam que o desenvolvimento de soluções sustentáveis de abastecimento e tratamento de água é um projeto economicamente viável para as organizações.
O segredo da melhor relação custo-benefício está no fato de todos os investimentos necessários e os riscos envolvidos para a implantação e manutenção do sistema serem assumidos pela prestadora do serviço, enquanto a empresa paga apenas pelo volume de água fornecido e de efluentes tratados. Esta é uma alternativa que merece ser considerada por um universo amplo de organizações industriais como forma inteligente de evitar uma série de prejuízos financeiros e ainda operar em consonância com as diretrizes da atual legislação brasileira sobre meio ambiente.
kicker: A gestão inteligente dos recursos hídricos preocupa também os empresários e não somente os ativistas ecológicos
Vlamir Paes, presidente da EcoAqua

GM, 06/10/2005, Energia & Abastecimento, p. C4

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