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Geoglifos brasileiros prestes a serem tombados como patrimônios culturais

A Crítica (AM) - http://www.acritica.com/
Autor: BÁRBARA NASCIMENTO
02 de Ago de 2010

A equipe visitou o município de Boca do Acre para ver, de perto, os geoglifos - escavações deixadas pelos indígenas há centenas e milhares de anos

Bem como as ruínas de Machu Picchu (Peru) as formas deixadas na terra por índios que habitavam as cabeceiras do rio Purus podem se tornar patrimônio cultural da humanidade. Esses desenhos, escavados no chão, são os geoglifos. De acordo com o Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já foram catalogados aproximadamente 300 no Sul do Amazonas (mais especificamente em Boca do Acre), Acre e Rondônia.

Em agosto, o Iphan inicia um grande projeto de instrução para tombamento dessas estruturas nesses três estados junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Outro trabalho do instituto é começar com o trabalho de preservação desses desenhos antes mesmo que o tombamento seja aprovado.

O instituto solicitou à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável diversas recomendações para que os nove geoglifos situados próximos da BR-317 (no município de Boca do Acre) ou interceptados por ela não sofram mais impactos. Essas medidas são: plano de gestão emergencial para os sítios situados até 400 metros da rodovia, placas de identificação das estruturas, sinalização e medidas de proteção às áreas.

Visita ao local
Na última quinta-feira, uma equipe formada por representantes da SDS, Iphan, Secretaria de Estado de Infra-Estrutura do Estado do Amazonas (Seinf) e Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam) foram até Boca do Acre para acompanhar as obras e verificar quais providências tomar em dois trechos de geoglifos, um deles é cortado pela estrada, que foi construída na década de 1950, quando ainda não se sabia dessas escavações na região (primeira descoberta de geoglifo aconteceu em 1977).

No geoglifo situado a 30 metros da estrada, não haverá mudanças na rodovia, tendo em vista que do outro lado da BR317 está situada a terra indígena Boca do Acre. Mas o geoglifo da fazenda Rancho Fundo, que é cortado pela rodovia, será feito um desvio de aproximadamente 120 metros. "Vamos fazer pequenas modificações no traçado da rodovia para que seja preservada a área arqueológica", conta o engenheiro responsável pela fiscalização da obra, Roberto Palmeira.

De acordo com a secretária de meio ambiente, Nádia Ferreira, a visita no local da obra foi a melhor alternativa para encontrar a solução do problema. "É a forma que estamos encontrando para pavimentar uma rodovia que é bem complexa, mas muito necessária às pessoas de Boca do Acre. As pessoas de lá precisam dessa integração regional", argumentou.

Os geoglifos
As estruturas são escavações com valas de um a três metros de profundidade em formas geométricas e sua forma é vista apenas do alto. "A origem dos geoglifos ainda é desconhecida. Teorias apontam que eles podem ter sido estruturas defensivas, centros cerimoniais, então alguma técnica agrícola ou manejo florestal", disse a arqueóloga Lúcia Juliani, que comandará o mapeamento desses geoglifos na região.

"Temos datação de geoglifos de 500 a 1800 anos, mas ainda há muito que estudar. O que se sabe é que essas estruturas foram construídas por grupos indígenas que habitavam regiões da bacia do rio Purus. As cerâmicas encontradas neles têm semelhança às cerâmicas produzidas pelo povo Aruaki, que ainda habita essas terras. São os índios Apurinã", elucida a arqueóloga. "Já conversamos com eles (Apurinãs), mas eles não têm interpretação nem conhecimento sobre a origem e função dos geoglifos. Mas provavelmente era um grupo bastante organizado".

Lúcia será a responsável pela prospecção dessa área. "Serão feitas varreduras nos campos para que se descubra que tipos de artefatos são encontrados dentro dos geoglifos", conta a arqueóloga. "Enquanto não for resgatado tudo na área do geoglifo, nada será feito e a obra fica paralisada nesse trecho", afirma a secretária Nádia Ferreira.

O tombamento
O arqueólogo do Iphan, Henrique Pozzi, falou sobre o processo de tombamento dos geoglifos. "A idéia do estudo é fazer uma grande avaliação do estado de conservação deles e selecionar os melhores indicados para tombamento, separar aqueles que têm maior relevância científica e cultural", comentou. "A perspectiva é de um trabalho de dez meses, para depois levar ao conselho consultivo do patrimônio cultural do Iphan para ver se o projeto será ratifica e aprovado", acrescentou o arqueólogo.

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