VOLTAR

Gelo do Ártico sumirá até 2040

OESP, Vida, p. A13
26 de Dez de 2006

Gelo do Ártico sumirá até 2040
Financiado pela Nasa, novo estudo adianta em pelo menos 30 anos derretimento da camada gelada no Pólo Norte

THE TIMES

O gelo que cobre o Oceano Ártico tem derretido de forma tão rápida que o Pólo Norte será um mar aberto em apenas 30 anos, segundo previsão de climatologistas americanos. Para eles, até 2040 a região não terá mais aquele lençol gigantesco de água congelada, como acontece hoje.

No verão ártico, os navios poderão navegar tranqüilamente no topo do mundo, cheios de turistas que observarão o que era uma das paisagens mais inacessíveis do planeta até que o aquecimento global desse conta do recado. Um pouco de gelo pode resistir em áreas costeiras, como na Groenlândia e nas Ilhas Ellesmere, e só.

É um processo que durará menos de uma geração e que já está em curso. Os cientistas, financiados pela Nasa (a agência espacial americana), calcularam a diminuição do gelo com base nos índices registrados hoje em dia. Nos últimos 25 anos, o gelo ártico reduziu em 25%.

A perda será constante até 2024. A partir de então, o processo se acelera, num efeito que os pesquisadores chamam de "feedback positivo" - ou efeito dominó. Isso porque o gelo normalmente reflete de volta para o espaço parte da radiação solar que a Terra recebe. À medida que a área coberta diminui, essa radiação é absorvida pelo oceano, que por sua vez esquenta e impulsiona um derretimento mais rápido.

Esse processo já era conhecido e, só com ele, o gelo ártico sumiria lá para 2080. A data mudou em virtude de um fator que havia sido esquecido pelos cientistas. Em um novo estudo, um grupo formado por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR) e de duas universidades americanas incluíram, no cenário já trabalhado pela ONU, correntes oceânicas mais quentes.

"Testemunhamos grandes perdas de gelo, mas a pesquisa sugere que a redução será ainda mais dramática nas próximas décadas, de uma maneira que nunca aconteceu antes", diz Marika Holland, do NCAR, principal autora do estudo. "À medida que diminui a cobertura de gelo, o oceano transporta mais calor ao Ártico e o mar aberto absorve mais radiação solar."

GASES DO EFEITO ESTUFA
O derretimento desse gelo todo, por si só, não elevaria o nível dos oceanos - uma vez que é apenas água sólida sobre água líquida, como uma pedra de gelo num copo d'água. Mas o aquecimento pode alavancar o derretimento já em curso da camada gelada sobre a Groenlândia - isso sim suficiente para acrescentar 7 metros àquele nível.

Para confirmar o resultado, o cálculo foi replicado em outros modelos climáticos, com datas similares na maioria deles. "O ritmo e a maneira pelos quais o gelo diminui afetam a habilidade de ecossistemas e sociedades se adaptarem às mudanças", alerta o grupo.

Para alguns cientistas, a previsão de 30 anos é até superotimista. Um deles é Chris Rapley, coordenador do Serviço Antártico Britânico. Ele acha mais provável que a perda de gelo se agrave com o crescimento acelerado da emissão de gases do efeito estufa, que mais do que dobrou desde 2000. O efeito estufa agrava o aquecimento global. "O estudo pode ser uma subestimativa de quando o gelo ártico no verão terá sumido", diz.

Por outro lado, em um discurso muito próximo ao dos ambientalistas, os climatologistas afirmam que a perda pode ser minimizada com a redução da emissão de gases-estufa. "Tais reduções aliviam a pressão sobre estes eventos."
Jeff Ridley, cientista do Centro Hadley, da Grã-Bretanha, que não participou do estudo, olha os dados com precaução. Lembra que todos os estudos anteriores apontavam para um tempo de 65 a 75 anos antes de o gelo sumir no verão ártico. "Todos os nossos modelos globais, no relatório do IPCC, indicam que o gelo não vai desaparecer até 2070 ou 2080."

O IPCC, ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, é o órgão da ONU que estuda as questões e congrega todas as descobertas no setor, ao publicar documentos que nortearão políticas sobre a questão.

Destruição da camada de ozônio é pior na Antártida

AFP

Um estudo divulgado ontem mostra que o aumento do buraco na camada de ozônio nos últimos 20 anos tem sido pior na Antártida que no Ártico. O processo no sul começou nos anos 70, mas foi mais acentuada nos anos 80 e 90.

Cientistas que realizaram o estudo, ligados ao governo americano, indicaram que havia praticamente uma ausência completa de ozônio em partes da atmosfera antártica depois de 1980, em comparação com anos anteriores. Em algumas altitudes, a redução chegava a 99% no inverno. Em contraste, as perdas de ozônio no Ártico eram esporádicas. Chegavam a 70%.

"A perda no Ártico é muito menor que a perda na Antártida", disse Robert Portmann, cientista do Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, no Colorado.

O ozônio filtra os raios ultravioleta, que provocam câncer de pele e catarata. A camada é destruída por produtos químicos, como o CFC, emitido pelo gás do aerossol e por geladeiras antigas. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e se baseou em 40 anos de medições de ozônio.

OESP, 26/12/2006, Vida, p. A13

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.