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Gavião mantêm interdição da BR-222

O Liberal-Belém-PA
Autor: NILSON SANTOS
21 de Out de 2004

Bloqueio na estrada é em protesto à morte de uma índia por uma quadrilha de assaltantes. A interdição prejudica o tráfego de caminhões na rodovia.
Até o início da noite de ontem os guerreiros Gavião Parakatêgê, da aldeia Mãe Maria, continuavam interditando trecho da rodovia BR-222 entre o distrito de Morada Nova e o município de Bom Jesus do Tocantins, a 15 quilômetros de Marabá, com destino a Rondon do Pará. O bloqueio é na ponte de madeira sobre o rio Flexeira, local onde na última segunda-feira uma índia Gavião morreu assassinada durante ataque de uma quadrilha de assaltantes. Os Gavião continuam exigindo a extinção do balneário Flexeira, que fica na divisa com a reserva indígena. "É um local de prostituição e bebedeira", disse umas da lideranças indígenas.

A revolta dos índios é tanta que há ameaça de que o bar de madeira coberto de palha, do balneário, seja incendiado a qualquer momento. O mesmo pode acontecer também com a ponte. Os quebra-molas que existiam na pista para reduzir a velocidade dos carros antes da passarela de madeira foram retirados anteontem com a ajuda de um trator dos próprios Gavião.

Outra medida que deve ser adotada pelas liderança dos Gavião é a demissão de todos os brancos que trabalham na aldeia. Ali, homens e mulheres prestam serviços em várias atividades nas áreas de saúde, educação, agrícola, segurança e sistema de comunicação. "Procuramos viver em harmonia e ajudar o homem branco. Agora, não vamos mais ajudar o homem branco", disse o guerreiro Zeca Gavião, umas das lideranças jovens da nação Gavião.

Os índios também estão revoltados com o resultado da necropsia do IML de Marabá, que não detectou vestígios de tiros no corpo da índia Kátia Kakau Gavião, 35 anos, que era casada com o índio Riba Gavição. O laudo assinado pelo médico-legista Anderson Huhn atesta que a indígena foi vítima de atropelamento, tendo como conseqüência o achatamento da cabeça, com exposição total de massa encefálica. Contatado ontem à noite por O LIBERAL em Marabá, o auxiliar de necropsias Cristóvão Paixão, confirmou que não havia qualquer marca ou vestígios de bala no corpo de Kátia, nem mesmo na cabeça. Os índios teimam que a mulher foi baleada, acreditando inclusive que o projétil que teria atingido a cabeça da vítima tenha se misturado com a massa encefálica que ficou espalhada sobre a ponte. No local só foi encontrada uma cápsula calibre 12, de uma das armas usadas pelos assaltantes.

Os Gavião também contestam que tenha sido o veículo deles, uma Frontier vermelha de placas JUI- 8681, que tenha esmagado a cabeça de Kátia. Eles alegam que foi o carro usado pela quadrilha, uma camionete também tomada em assalto, que passou sobre a vítima. Esse veículo foi recuperado e está recolhido na Polícia Rodoviária Federal (PRF). As camionetes serão periciadas para detectar quais das duas tem vestígio de sangue nas rodas para dissipar as dúvidas. Não há previsão para a desobstrução da rodovia.
Centenas de veículos, grandes e pequenos, ônibus e caminhões estão sem poder seguir viagem para seus respectivos destinos. Motoristas e passageiros também se mostram revoltados.

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