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Garimpo na Amazônia derruba a floresta e os indicadores sociais

A Crítica, Cidades, p. A8
Autor: RADLER, Juliana
25 de Out de 2022

Garimpo na Amazônia derruba a floresta e os indicadores sociais

Juliana Radler
26/10/2022 às 17:25.

Estamos a menos de uma semana das eleições para presidente da República. Está em nossas mãos decidirmos sobre o futuro que queremos para a Amazônia e para o Brasil. Uma coisa é certa: a floresta não suporta mais quatro anos desse libera geral para a criminalidade e para a destruição socioambiental.

Em 2021 o garimpo ilegal registrou sua maior expansão na Amazônia, abocanhando 15 mil hectares de floresta em um único ano. Nunca tivemos tantas invasões de garimpeiros ilegais em terras indígenas. Em seu rastro: violência, morte, estupros e rios contaminados por mercúrio. Hoje, mais de 90% da área de garimpo no território nacional está na Amazônia Legal.

Calcula-se que 71,4 milhões de árvores tenham sido mortas pelo garimpo ilegal na região nos últimos anos. O garimpo é considerado uma das principais causas de desmatamento na Amazônia, competindo com a grilagem de terras e a extração ilegal de madeira. Ao todo, a devastação provocada pelo garimpo na Amazônia passou de 99 mil hectares em 2010 para 196 mil hectares em 2021. Para se ter uma ideia: um hectare corresponde a mais ou menos um campo de futebol.

Já noticiado na manchete deste jornal: a atividade garimpeira na Amazônia está associada com outros ilícitos como tráfico de armas e de drogas, tendo o crime organizado e as facções cada vez mais atuantes. O Pará e o Mato Grosso foram recordistas em área devastada pelo garimpo: foram 113,7 mil hectares devastados em território paraense e 59,6 mil hectares em terras mato-grossenses, segundo dados do MapBiomas e do Observatório da Mineração.

Pedidos de intervenção federal e apoio para a expulsão dos garimpeiros não são atendidos pelo governo e o desastre humanitário ocorre com o aval do Palácio do Planalto. Foi criada uma aliança indígena inédita contra o garimpo formada por lideranças Kayapó, Munduruku e Yanomami, que vem denunciando ao mundo sobre as violações de direitos sofridas por sua gente e seus territórios. Vale lembrar que o garimpo em terras indígenas é proibido pela Constituição Federal.

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que o garimpo derruba os indicadores sociais onde se instala: o Índice de Progresso Social (IPS) médio dos municípios amazônicos afetados pelo garimpo é de apenas 52,4, bem abaixo da média nacional, de 63,3. O IPS médio dos municípios garimpeiros é 20% menor que a média nacional. Portanto, derrubamos o mito que o garimpo traz riqueza. Essa é mais uma das tantas fake news espalhadas por quem tem interesse em destruir a Amazônia para enriquecer sua própria conta bancária, pouco se importando com o desenvolvimento do Brasil.

O garimpo afeta pelo menos 216 municípios e uma população estimada de 6 milhões de pessoas na Amazônia Legal, ainda de acordo com o levantamento do ISA. Todos os estados da região têm garimpo, exceto o Acre. Em 2020, o Pará estava em primeiro lugar em termos de área degradada pela atividade, com 86,8 mil hectares, seguido pelo Mato Grosso, com 29,5 mil hectares, Rondônia, com 6,5 mil hectares, e Roraima, com 480 hectares.

Olhando para os 10 municípios brasileiros afetados pelo garimpo com menores IPS, temos o exemplo de Jacareacanga, no Pará, com um índice 26% menor do que a média nacional e 14% menor do que à média amazônica. Enquanto os níveis sociais caem, crescem os índices de violência. Jacareacanga aparece como o segundo município mais violento do Brasil no Anuário Brasileiro de Violência Pública 2022, com uma taxa de 199,2 mortes violentas intencionais (MVI) por 100 mil habitantes.

Durante o atual governo, entre janeiro de 2019 e maio de 2021, o aumento da área degradada pelo garimpo em Jacareacanga foi de 269%. Mais de 98% da extensão do município é sobreposto à Terra Indígena Munduruku e, no mesmo período, foram devastados 2,2 mil hectares nessa área protegida. Jacareacanga virou um reflexo da necropolítica e destruição implantada no Brasil. Dia 30 de outubro precisamos, dentro da nossa democracia, mostrar ao mundo que podemos interromper essa barbárie que se proliferou na Amazônia.

*Juliana Radler é jornalista com especialização em meio ambiente e analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA)

A Crítica, 25/10/2022, Cidades, p. A8.

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