VOLTAR

Garimpo ilegal dos Cintas Largas: pode ser o fim

Estado de S.Paulo-SP
Autor: EDSON LUIZ
10 de Mar de 2002

Medo, violência e degradação ambiental assolam a reserva Roosevelt, em Rondônia

Até o fim deste mês, a Polícia Federal vai desencadear uma megaoperação na reserva Roosevelt, dos índios Cintas Largas, em Rondônia, para erradicar o garimpo ilegal de diamantes que se instalou na região. Ali, um dos mais fechados redutos da floresta amazônica, índios e garimpeiros se uniram para explorar o que talvez seja a maior jazida do minério da América do Sul. A polícia calcula que, no período de um ano, saíram da região cerca de US$ 50 milhões em diamantes com destino à Bélgica.

O problema maior é que a exploração ilegal e desordenada está levando para as áreas indígenas, o medo, a degradação ambiental e a violência. Segundo estimativa da polícia e de ambientalistas, cerca de 40 pessoas já foram assassinadas na região em conseqüência de conflitos envolvendo garimpeiros.

Quase todos os dias, um pequeno avião decola de Cacoal ou de uma das aldeias da reserva indígena, uma área de 200 mil hectares que se estende pelo sul de Rondônia e noroeste de Mato Grosso, levando a bordo milhares de pedras de diamante retiradas ilegalmente. A cena está se tornando tão comum que, segundo ambientalistas, em pouco tempo a região poderá se transformar no cenário de um dos maiores desastres ambientais no Brasil.

Ninguém sabe exatamente quantos quilos de diamante estão deixando o País, mas uma coisa já é certa: o garimpo ilegal pode acabar não apenas com a cultura dos índios Cintas Largas, mas também dizimar a população indígena da região, que aos poucos está perdendo suas terras em troca de um porcentual da extração na área.

"A situação é de emergência e precisamos tomar uma posição", alerta a procuradora da República Raquel Dodge, que esteve na região no fim de semana passado para tentar convencer os índios a deixar a sociedade com os garimpeiros. Na reunião de 12 horas, contudo, a procuradora ouviu quase sempre as mesmas respostas. "Nós sempre acreditamos na Funai (Fundação Nacional do Índio); sempre fomos a ela pedir ajuda, mas não estamos vendo nada de concreto", reclamou Itá Cinta Larga.

O índio Suruí Rani defende a permanência do garimpo, mas sob controle dos índios. "Não é para fechar o garimpo. A Constituição diz que o diamante é do índio." Na verdade, o controle dos garimpos já é mantido pelos próprios índios, que recebem porcentual pela extração e maquinários na reserva.

"Pagamos em torno de R$ 10 mil por máquina, além de 5% de nossa produção", confirma o garimpeiro Francisco de Assis, que esconde o sobrenome, mas revela o esquema de corrupção e conivência. "A maioria dos índios também tem máquinas e contrata garimpeiros para trabalhar para eles. Podemos dizer que somos sócios."

Perigo - Pelos cálculos da Polícia Federal, pelo menos 2 mil pessoas transitam diariamente pelas cidades de Cacoal, Espigão D'Oeste, Pimenta Bueno, Ji-Paraná e Vilhena, em Rondônia, além de Juína e Aripuanã, em Mato Grosso, em busca de diamantes. Além de provocar o inchamento das cidades, esse movimento desordenado leva medo, violência, corrupção e miséria à população local.

Para os índios, o perigo está a apenas 7 quilômetros, no Igarapé Lage, onde se localiza o maior garimpo da região. "Isso só vai acabar se fizermos uma barreira fixa, fechando todos os pontos de entrada da reserva", avalia o delegado federal Márcio Valério de Souza. "Se a PF nos tirar mil vezes da reserva, entraremos 1.200 vezes, porque os índios querem a gente lá", avisa Francisco das Chagas, que parece comandar um pequeno exército de garimpeiros.

Na reunião mantida entre representantes do Ministério Público Federal, Funai e os índios, na semana passada, ficou acertado que o governo irá se mobilizar para retirar os garimpeiros da área. "Para nós, é um desafio romper o círculo da exploração da madeira e do diamante na área", diz Raquel Dodge.

A tarefa realmente não é simples. No encontro, a própria Funai não tinha informações sobre o apoio que será dado aos índios depois que o garimpo for fechado. O diretor de Patrimônio Indígena da Fundação, Wagner Senna, levou a proposta para Brasília, mas a prioridade é a retirada dos garimpeiros. Isso porque a convivência com os índios está cada vez mais perigosa. A Polícia Federal já tem uma relação de índios que querem deixar a atividade ilegal, mas estão ameaçados de morte. Na semana passada, César Cinta Larga, um dos líderes indígenas, foi assassinado. No fim do ano passado, Carlito, chefe indígena em Aripuanã, também foi morto. A polícia já abriu inquérito para apurar seis mortes.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.