VOLTAR

'Garimpeiros estão voltando': Yanomamis relatam invasões com novas táticas

UOL - https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/12/17
17 de Dez de 2023

'Garimpeiros estão voltando': Yanomamis relatam invasões com novas táticas

Fabíola Perez
17/12/2023

Garimpeiros intensificaram ações de exploração ilegal do ouro na Terra Indígena Yanomami com novas estratégias de invasão quase um ano após a ação emergencial do governo Lula de intervenção no território.
O que aconteceu
Novas denúncias de invasões de garimpeiros e ameaças contra comunidades dos Yanomami têm chegado à Procuradoria da República em Roraima. O MPF (Ministério Público Federal) reforçou pedido à Justiça Federal para que o governo federal atualize o plano de desintrusão -a retirada de não indígenas que ocupam terras homologadas.
Indígenas relatam ameaças de garimpeiros armados. O último registro de invasão ocorreu em 4 de dezembro, com a presença de garimpeiros armados no rio Catrimani. "Eles estão trabalhando à noite, não estão mais derrubando árvores. Eles têm uma estrutura de helicópteros e aviões, estão aproveitando a fragilidade do governo", afirma a liderança local.
Garimpeiros atuam principalmente em áreas já devastadas. Se antes, eles desmatavam novas áreas de floresta para extrair o ouro, agora se instalam em regiões já abertas para continuar a exploração. Isso impõe dificuldades de monitoramento aos sistemas de alerta. .
A nova onda de exploração coloca em risco comunidades já fragilizadas. "Os garimpeiros que chegaram nos últimos quatro anos estão voltando e se expandindo para outros lugares. O garimpo não acabou", afirma Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.
Quem denuncia sofre ameaças, diz liderança local. "As lideranças relatam que, se denunciarem, correm o risco de serem assassinadas. As comunidades vivem com medo", afirma Júnior. Por isso, os relatos são enviados ao MPF pelas entidades indígenas sob sigilo.
Nosso maior medo se chama crime organizado, PCC e lavagem de dinheiro na terra Yanomami. Já morreram muitos Yanomamis. Os garimpos vão aumentar mais ainda nessa época de fim de ano, porque sabem que haverá menos fiscalização.
Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara
Garimpeiros voltam a extrair ouro ilegalmente na Terra Indígena Yanomami, em Roraima Imagem: Alexandro Pereira
Menos fiscalização do Exército
Autoridades e entidades que atuam na região afirmam que o Exército não tem atuado de forma eficiente na fiscalização. "As ações passaram a ser ineficazes, o contingente e as operações diminuíram", afirma Senra, do ISA. "Com isso, estão atuando de maneira menos camuflada, ampliando o horário em que os aviões trafegam e os barcos passam com mais frequência."
Continua após a publicidade
Newsletter
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receber
Os relatos indígenas são os mais confiáveis, afirma o procurador Marugal. Segundo ele, na região de Pupunha, no Xitei, garimpeiros armados expulsaram indígenas e assumiram o controle da região. "Eram pessoas com coletes à prova de bala e armas longas, que entraram na comunidade."
Nos últimos três meses, ficou mais difícil acionar órgãos de fiscalização e policiamento, segundo o procurador. "Conseguia falar mais facilmente com a PF. Agora não adianta fazer uma comunicação em ofício." Isso porque, segundo ele, as Forças Armadas alegam "falta de recursos" e de "capacidade operacional".
A Polícia Federal apoiava o Exército na fiscalização. "Além do combate direto ao garimpo, a FAB e o Exército têm helicópteros de grande capacidade para dar apoio logístico a outros órgãos durante as operações. Mas isso não tem ocorrido com frequência. A PF tem helicópteros, mas não ficam em Roraima. Com isso, não há uma efetiva desintrusão", diz o procurador. O UOL procurou a PF em Roraima, que informou que não se pronunciaria.
Temos indícios de que há uma tendência ao retorno numa escala que pode levar a uma nova onda de exploração. Não se conseguiu montar um plano contra a invasão. As ações do governo não conseguiram retirar totalmente os garimpeiros nem interromper as ações.
Estêvão Senra, pesquisador do ISA
O que dizem as Forças Armadas
O Exército informou que atua por meio de "ações preventivas e repressivas na faixa de fronteira terrestre contra delitos transfronteiriços e ambientais". As ações incluem "patrulhamento, revista de pessoas e veículos terrestres, embarcações e aeronaves, e prisões em flagrante."

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/12/17/garim…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.