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Garimpeiros detidos chegam hoje a Boa Vista

Folha de Boa Vista- http://www.folhabv.com.br
02 de Jul de 2010

Os dez garimpeiros detidos em área indígena na operação Curari III, Serra do Parima, em um trabalho conjunto realizado pelo Exército Brasileiro e a Superintendência Regional da Polícia Federal, devem chegar hoje pela manhã na capital. Se o tempo for favorável eles aportam em Boa Vista antes do meio dia. Os homens estão há 12 dias alojados no Pelotão de Fronteira (PEF) na região de Surucucu, Município de Alto Alegre, a 330 quilômetros de Boa Vista.

A operação na faixa de fronteira abrangendo áreas das reservas indígenas Yanomami, São Marcos, Raposa Serra do Sol e localidades do sudeste do estado, que teve sua primeira fase encerrada ontem, foi iniciada no dia 7 do mês passado e deve continuar até o final do ano e sem tempo para acabar.

A Folha foi o único veículo de comunicação impresso que acompanhou ontem a ida a Surucucu de uma das aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), um Amazonas C-105/A do 1/9 - Esquadrão Araras, do Grupo de Aviação da Base Aérea do Amazonas, que está dando apoio aos trabalhos.

A aeronave levou mantimentos e cargas aos militares do PEF e trouxe o comandante da operação no Surucucu, coronel Guerra, que também comanda o 7 Batalhão de Infantaria de Selva (7 BIS), dez agentes da Polícia Federal, além de outros militares que atuaram na operação e que estavam no local há mais de dez dias.

Ainda hoje, outros três voos devem ser realizados para fazer também a retirada, além dos garimpeiros, de outros 87 militares do Amazonas que permaneceram no pelotão em apoio à operação.

A operação é o resultado de um planejamento integrado das duas instituições, com base em dados de inteligência obtidos sobre ilícitos na região que tiveram seus trabalhos iniciados em abril deste ano.

O objetivo é a prevenção e a coibição de crimes transfronteiriços, a exemplo da exploração de garimpo em terras indígenas e outros ilícitos ambientais.

Equipamentos que não foram destruídos serão entregues à PF
Vários equipamentos usados durante a garimpagem em áreas indígenas, que não foram destruídos, foram apreendidos e serão entregues à Polícia Federal. Até o momento, já foram destruídos cinco balsas, oito motobombas, um quadriciclo, 30 carotes de combustível vazios, uma antena parabólica, bateias (peneiras) entre outras ferramentas utilizadas no garimpo.

"Como eles não puderam ser extraídas daqueles locais por meio de helicópteros, optamos pela destruição. Com exceção de três equipamentos de rádio, três armas de caça, dois motores de popa, uma motosserra, uma pequena quantidade de ouro e 2.7000 sacolas plásticas, além de grande quantidade de madeira", explicou o coronel Guerra, comandante do 7 Batalhão de Infantaria de Selva (7 BIS) e da operação em Surucucu.

Estão sendo empregados cerca de 600 homens, integrantes das tropas das brigadas sediadas em Boa Vista e Manaus, seis helicópteros do 4 Batalhão de Aviação do Exército, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), policiais federais de Roraima, integrantes da PRF e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Minerais Renováveis (Ibama).

"Sem o apoio do Batalhão de Aviação, que nos cedeu helicópteros do tipo Black-halk (pássaro-preto), seria complicado atuar nessas regiões por conta da dificuldade de acesso. Temos que reconhecer também a habilidade dos pilotos, que conseguiram vencer diversas barreiras. Uma das pistas era bem escondida e as copas das árvores deixavam-na, praticamente imperceptível", explicou o comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, general Franklimberg.

PF monta cartório volante para agilizar procedimentos
Para acelerar o processo de identificação e qualificação dos garimpeiros detidos e retirados das áreas de garimpo de diversas áreas da reserva indígena Yanomami e Raposa Serra do Sol, a Polícia Federal criou o 'cartório volante'.

Segundo o delegado da Polícia Federal De Lorenzo, através do cartório volante, que conta com um delegado, um escrivão e um papiloscopista, em todos os pontos da operação, já foram detidos e qualificados 23 garimpeiros. Eles foram enquadrados no artigo 55 da Lei de Crimes Ambientais 9605/98. "Após serem entregues na Polícia Federal, eles serão liberados e deverão responder a um Termo Circunstanciado", explicou.

Além da detenção, durante a operação já foram interditados nove garimpos e quatro pistas de pouso foram explodidas. Outros 11 garimpeiros foram retirados durante reconhecimentos que antecederam a operação.

Ainda durante o trabalho de inteligência, que antecipou a operação, 25 locais foram levantados pelas equipes e outros 15 pelos agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), dos quais oito em coincidência. Do total, 13 foram escolhidos e 11 foram vasculhados pelos militares. Em quatro deles (Castelo, Hélio, Bandeirantes e Majestade) foi confirmada a existência de garimpo. No restante, a operação se deparou apenas com os resquícios deixados pelos garimpeiros.

Garimpeiros alegam falta de trabalho rentável

Dos dez garimpeiros detidos na operação, que devem chegar à capital ainda hoje, a maioria alegou que optou em trabalhar com a garimpagem, mesmo em áreas proibidas, por faltar ocupação rentável na capital, e melhores oportunidades de trabalho.

"Fui convidado por um amigo lá em Rorainópolis. Quando fomos localizados estava apenas há 15 dias na região. Trabalhava como tratorista em São Paulo, mas o salário não dava para sustentar minha família. A promessa de renda no garimpo era bem melhor", disse um dos garimpeiros, Paulo Roberto Lima, 28, sem divulgar valores.

Manoel Pereira da Silva, 44, que há 30 trabalha com garimpagem, e que teve quase todo seu maquinário e equipamentos destruídos, disse que a classe é discriminada.

"Não temos as mesmas oportunidades que muitas outras pessoas têm. Já garimpei em outros países e essa repressão toda não acontece. Não estamos destruindo os rios como se fala. Sabemos que o mercúrio e o diesel são prejudiciais ao meio ambiente, mas apenas se forem utilizados em grande quantidade", explicou Manoel, esposo de uma das duas mulheres detidas durante a operação.

O comandante da operação no Surucucu, coronel Guerra, explicou que a quantidade de produtos utilizados durante a garimpagem, pode ser preocupante se os pontos de áreas atingidas forem multiplicados.

"É para isso que estamos agindo, justamente para evitar que essa ação seja alastrada. No momento, se formos comparar as áreas atingidas com o tamanho da reserva Yanomami, podemos dizer que o impacto ambiental ainda é pequeno", concluiu.

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