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Galeria Metrópole: 'olhar modernista' volta ao centro e estimula convivência com SP

OESP, C2, p. C1.
06 de Fev de 2023

Galeria Metrópole: 'olhar modernista' volta ao centro e estimula convivência com SP
Espaço dos anos 1970 e áreas próximas à Praça da República atraem arquitetos, designers e galeristas que buscam 'conviver' com a cidade

Por Marcelo Gomes Lima
06/02/2023 | 05h00

Requalificar o centro antigo da cidade de São Paulo como espaço cultural e de conexão com seus habitantes tem sido objetivo de governantes já há algumas décadas. Em anos recentes, reocupar edifícios históricos com órgãos administrativos foi um dos caminhos encontrados para evitar a degradação de muitos deles. Agora, atraídos por valores de locação mais atrativos - e pelas vantagens potenciais de um arquitetura tida como mais generosa e inspiradora -, jovens profissionais que atuam na economia criativa começam a olhar com mais atenção para o rico patrimônio modernista daquela região.
Como uma pequena comunidade. É assim que o designer Bruno Niz, do Studio Niz, define o grupo de arquitetos, designers e galeristas que, nos últimos anos, se instalaram, ou transferiram seus endereços para a Galeria Metrópole: um dos mais icônicos edifícios modernistas da capital, dos arquitetos Salvador Candia e Gian Carlo Gasperini, situado no cruzamento da Avenida São Luís com a Praça Dom José Gaspar. A região, aliás, despertou interesse, como também se nota na Avenida Vieira de Carvalho.
"Em 2020, uma covid violenta me fez repensar tudo e partir para novos desafios. E meu atual endereço se enquadra nessa perspectiva. Em dois meses, em 2021, mudei para cá e posso dizer que as coisas estão indo bem. No começo, apenas a Naná Mendes da Rocha (designer e filha do arquiteto Paulo Mendes da Rocha), estava por aqui. Depois, principalmente no ano passado, foram chegando outros e, hoje, sinto que estamos imprimindo uma nova cara a esse lugar. O entusiasmo é grande", conta Niz.
ARQUITETURA MODERNA
Em março de 1960, a revista Habitat estampava na sua capa o conjunto de edifícios Maximus, mais tarde denominados, separadamente, Edifício Metrópole e Centro Metropolitano de Compras - a atual Galeria Metrópole. A iniciativa teve sua origem com a organização de um concurso fechado. Finalistas, Salvador Candia e Gian Carlo Gasperini desenvolveram juntos o projeto final, no qual foram preservados aspectos de suas propostas.
Comum a ambos é o cuidado em conciliar os princípios da arquitetura moderna com as limitações espaciais de uma cidade de moldes ainda tradicionais. E, em especial, o caráter inovador do edifício comercial ao oferecer um espaço interno que é continuação do externo, além de uma eficiente circulação vertical, inédita para os padrões da época, baseada no funcionamento de 14 escadas rolantes. Atributos que o colocam como precursor de muitos dos atuais shopping centers da cidade.
De centro comercial de luxo nos anos 1960, a Metrópole começa a entrar em declínio a partir do final da década de 1970, quando suas lojas padronizadas deixaram de ser competitivas ante um mercado que exigia crescente diferenciação, e ainda em função do aumento da violência na região. Na década de 1980, com a revitalização da Praça Dom José Gaspar, o complexo ganhou algum fôlego e passou a abrigar agências de turismo, novas lojas, restaurantes e uma casa noturna. Até que vieram os anos duros da pandemia e, com eles, o fechamento de muitos espaços comerciais.
"Diria que me sinto seguro por aqui. Ou, pelo menos, nem mais, nem menos seguro do que em outros pontos da cidade", afirma o arquiteto Pedro Henrique Demarchi que, desde o ano passado, também se instalou na galeria e se diz satisfeito com o ambiente altamente favorável à criação que encontrou por lá, com suas muitas galerias, lojas e livrarias especializadas em arte e design contemporâneo, além de espaços de convivência. "Para nós profissionais, mas também para os nossos clientes, é um ambiente muito diversificado, que favorece a troca de informações", complementa. E, de fato, nesse quesito, eles não têm do que reclamar. Basta dar um giro pela área para conferir o grande número de espaços em funcionamento, ou recém-abertos, voltados para a criação contemporânea.
MINIMALISTAS
Além do Studio Niz, que desenvolve objetos de perfil minimalista, de madeira e metal, abriram suas portas por lá nos últimos anos, entre outras, a Metro Objetos + Fino, duas lojas de design independentes, que dividem o mesmo espaço; e a Paiol, focada em arte popular, com duas unidades em funcionamento, na Vila Madalena e na Avenida Paulista, que no ano passado resolveu abrir sua mais nova filial na galeria.
Por fim, como a Metrópole é muito frequentada por arquitetos, designers e interessados em arte em geral, a IP Livros Usados, que também funciona no local, oferece uma seleção de livros sobre os assuntos favoritos desse público: fotografia, arquitetura e design, além de catálogos de exposições. E há ainda outra recém-chegada, a loja do Instituto Socioambiental (ISA), organização que defende os direitos dos povos indígenas e exibe uma seleção de cerâmicas, cestarias e acessórios produzidos por diversas etnias.
Próxima à Metrópole, a galeria Califórnia atrai novos ocupantes
Não muito longe da galeria Metrópole, no centro de São Paulo, o Condomínio Edifício e Galeria Califórnia, que interliga a Rua Barão de Itapetininga com a Praça Dom José de Barros, projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Carlos Lemos, já experimenta uma radical mudança do perfil de seus ocupantes. Continuam por lá os escritórios de advocacia e as lojas de artesanato e rochas dirigidas a turistas. Mas é igualmente expressivo o número de artistas visuais que nos últimos tempos transferiram para lá seus estúdios de criação.
"A generosidade de sua arquitetura, não apenas em relação a suas dimensões, mas também às suas condições de luminosidade, favorecida por seus grandes painéis de vidro, faz com que eles se adaptem perfeitamente ao funcionamento de um ateliê", conta a artista plástica Germana Monte-Mór, uma das primeiras a chegar à Califórnia, em 2017. Hoje, o local reúne cerca de 20 estúdios. "Posso afirmar que meu trabalho só cresceu em função da luz incrível que desfruto no meu ateliê", diz.

Minhas coleções, sobretudo as de vidro, precisam de espaço e de luz para alcançar plena expressão. E essa arquitetura de inspiração modernista me proporciona tudo isso
Luiz Pedrazzi

Atraído pela possibilidade de mais espaço - mas igualmente pelo desejo de trabalhar em uma área tomada por ele como estimulante do ponto de vista criativo -, o designer Luiz Pedrazzi transferiu seu showroom e estúdio para a Avenida Vieira de Carvalho, em 2019, do outro lado da Praça da República. "Em um primeiro momento, minha preocupação era com os meus clientes. Como eles reagiriam à mudança e, principalmente, se eles se deslocariam para a região", lembra ele.
Para a surpresa de Pedrazzi, porém, a receptividade ao novo endereço superou as expectativas, a ponto de justificar mais um aluguel na avenida.
"Quando eles me visitam, se surpreendem com a tranquilidade do lugar e com o patrimônio arquitetônico ao redor. Penso que não poderia ter encontrado local mais adequado para instalar meu showroom. Minhas coleções, sobretudo as de vidro, precisam de espaço e de luz para alcançar plena expressão. E essa arquitetura de inspiração modernista me proporciona tudo isso", conclui o designer.

OESP, 06/02/2023, C2, p. C1.

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