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Funbio e Arapyaú promovem evento sobre o setor energético e a transição para uma economia de baixo carbono

FUNBIO - www.funbio.org.br
16 de Mar de 2010

Realizado no dia 4 de março, o seminário "O setor energético e a transição para a economia de baixo carbono" levantou o debate sobre a matriz energética brasileira e a visão de um Brasil sustentável, assunto investigado pelo Funbio dentro do programa FOCUS | Visão Brasil. O evento foi mais uma edição programa Diálogos Sustentáveis, que desta vez contou com a parceria do Instituto Arapyaú de Educação e Desenvolvimento Sustentável e do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).

O economista e professor da USP, José Eli da Veiga, abriu a discussão ressaltando que temos 20 anos até que a questão energética do país se torne um problema grave de fato. "Se não cuidarmos disso agora, teremos que nos debruçar sobre o balcão de tecnologias usadas por outros países", frisou. Para ele o Brasil é um exemplo ruim de eficiência energética, e precisa entender que há mais oportunidades do que sacrifícios no setor. "Os países escandinavos migraram para uma economia de baixo carbono antes mesmo de a questão do clima estar no topo da agenda internacional. Eles dependiam 100% do petróleo, e com a crise dos anos 70 tiveram que buscar fontes alternativas de energia. Os empresários de lá perceberam que a transição para uma economia de baixo carbono não era sacrifício, mas uma fonte para novos negócios", disse. Em sua avaliação, entretanto, ainda estamos muito atrasados.

Já Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), entidade ligada ao Ministério de Minas e Energia, vê a questão por um ângulo diferente. "Temos consciência de que é necessário investir em eficiência energética, mas ainda optamos por investir em hidrelétricas, por oferecer um preço mais barato aos consumidores e ser uma energia limpa", disse. Tolmasquim ressaltou que não é o setor de energia a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. "No mundo, quase 60% das emissões se devem ao setor energético, mas aqui apenas 14% advêm do setor", disse. "Não devemos abrir mão dos recursos hidrelétricos".

Ricardo Baitelo, do Greenpeace, criticou a prevalência da energia hidrelétrica em nossa matriz energética. "Não é uma opção socialmente justa, pois gera grande impacto ambiental. Podemos ter um sistema energético inteligente para o país, que busque várias fontes de energia", disse.

Na mesa sobre oportunidades para a indústria, Beatriz Espinosa, Gerente Geral de Eficiência Energética e Mudança Climática da Petrobras, Katsuo Dias Homma, Coordenador Executivo do Departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Vale e Otávio Lobão Vianna, Chefe do Departamento de Operações de Meio Ambiente BNDES, deixaram claro que o investimento em pesquisa e desenvolvimento ainda precisa de mais estímulos. Mas o sistema financeiro precisa ajudar.

Para Vianna, do BNDES, só é possível crescer numa economia de baixo carbono com um sistema de taxas sobre emissões de gases de efeito estufa. "Apenas 30% das empresas pertencentes ao IBRx50 (referencial para investidores da Bovespa) reportam suas emissões".

Um novo paradigma, mais ético

A mesa de encerramento do evento contou com a participação do economista e professor do Insper/SP, Eduardo Gianetti, com o Presidente do Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro e professor do departamento de economia da PUC-RJ, Sérgio Besserman, e com a senadora e candidata à presidência da República pelo PV, Marina Silva.

O tom do bate-papo mostrou que só uma mudança de paradigma em nossa economia e na visão de mundo que hoje a sociedade tem poderá levar a humanidade a um futuro mais sustentável. E a transição para uma economia de baixo carbono é uma resposta a este desafio.

Segundo o escritor e economista Eduardo Giannetti, a mudança de paradigma econômico teria que passar por uma mudança na forma de precificação das coisas, o que está ligado a uma mudança de comportamento da sociedade. "Hoje, fazer uma geradora de eletricidade à base de energia solar custa 15 centavos de dólar por kilowatt/hora, enquanto que uma à base de carvão, custará 3 a 4 centavos, muito mais barato. A emissão de CO2 produzida não está sendo contabilizada", explicou.

"Da mesma forma, quando pego um avião para ir de São Paulo ao Rio, ou a qualquer outro lugar, não está embutido no preço da passagem a emissão de CO2 que esta viagem causou à atmosfera. Os preços refletem uma visão monetária apenas, mas são cegos para os impactos ambientais", destacou Giannetti.

Segundo Besserman, são os economistas tradicionais, que não levam em conta o fator ambiental e social na conta, os que estão encarando a crise econômica que em 2008 levou á falência grandes e poderosas instituições. "Só poderemos dizer que saímos da crise econômica quando houver recuperação da taxa de investimento, e que ela seja sustentada."

Para a senadora Marina Silva, é hora de se pensar numa mudança ética. "Não está em discussão o que a sociedade quer manter a qualidade de vida. Marina relatou que uma pesquisa recente mostrou que em Los Angeles, nos EUA, de cada cinco jovens, três tinham problemas de ansiedade associada ao adiamento do prazer (não poder comprar o que quer na hora que quer) e ao peso da responsabilidade (trabalhar duro para poder comprar, comprar, comprar). "Este afã de consumir é o que torna a humanidade tão depredadora. E tudo consome energia em sua produção", destacou.

A matriz energética brasileira

Apesar de a matriz energética brasileira ser uma das mais limpas do mundo, há necessidade de uma reflexão sobre o papel do setor no futuro, num momento onde as preocupações com a segurança energética e as mudanças climáticas são cada vez maiores. Mais de 45% de toda a energia consumida no país provém de fontes renováveis, enquanto que a média nos países desenvolvidos é de 10%. Como o Brasil pode aproveitar sua vantagem competitiva, num contexto onde países buscam cada vez mais desenvolver iniciativas para reduzir suas emissões de gases geradores do efeito estufa (GEEs)?

Os resultados do evento e dos estudos do FOCUS serão disponibilizados na Internet e visam apoiar a qualificação sobre o planejamento do setor de energia, fortalecendo a inclusão da variável socioambiental dentro de um tema tão relevante para o país. Acompanhe as discussões em http://twitter.com/focusbrasil.

http://www.funbio.org.br/

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