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Funasa e CIR denunciam negligência

Folha de Boa Vista-Boa vista-RR
Autor: DANIELA MELLER
01 de Out de 2002

O vice-coordenador do CIR, Norberto Cruz da Silva: "Foi negligência no atendimento"

A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) juntamente com o Conselho Indígena de Roraima (CIR) denunciaram ontem que houve negligência médica por parte da direção do Pronto Socorro Francisco Elesbão (PS) no caso do indígena Sulivan Ferreira, que faleceu na madrugada de quarta-feira após ter sido agredido três dias antes, possivelmente por uma galera.

O indígena era da aldeia Três Corações na região do Amajarí e segundo o coordenador regional da Funasa, Ipojucan Carneiro da Costa, após ser atacado Sulivan foi levado ao PS devido a gravidade dos ferimentos. Ipojucan disse ainda que o paciente passou por exames onde foram constatados politraumatismo e hemorragia interna.

Mesmo com este quadro clínico, o indígena foi mandado para a Casa do Índio. Mas, segundo o coordenador da Funasa, aquela instituição não tem estrutura para cuidar desse tipo de emergência, sendo obrigada a reencaminhar o índio para o PS.

De acordo com anotações na Casa do Índio, quando Sulivan voltou ao Pronto Socorro mesmo apresentando quadro de choque hipovolêmico, pulso débil e desorientado, o médico identificado apenas por Donald, que o tinha atendido anteriormente, questionou dizendo que o mesmo estava de alta e não era necessário ser novamente internado.

Ainda segundo Ipojucan, a Funasa repassa mensalmente um incentivo ao Hospital Rubens de Souza Bento (HRSB) superior a R$ 30 mil, para priorizar o atendimento aos indígenas. "Com certeza iremos tomar providências e medidas necessárias quanto a esse descaso e o fato será encaminhado ao Ministério Público", afirmou.

CIR - Para o vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Norberto Cruz da Silva, um dos fatores que causou a morte de Sulivan foi o vai e volta entre a Casa do Índio e o Pronto Socorro. "Foi uma discriminação por parte dos profissionais do PS. Além disso, nos caracterizamos o fato como negligência no atendimento. Como pode uma pessoa estar vomitando e urinando sangue receber alta médica?", questionou Norberto.

DIREÇÃO - O diretor do Pronto Socorro, José Nunes da Rocha em entrevista à Folha, através do telefone disse ser injustiça as acusações da Funasa e do CIR, uma vez que a unidade [PS] nunca discriminou pacientes, muito menos negligenciou no atendimento.

"Isso é uma irresponsabilidade muito grande ainda mais que eles estão denunciando sem conhecimento de causa, pois, até o momento ainda não se sabe qual foi a causa da morte. Pode ter sido conseqüência do grave espancamento, um infarto ou qualquer outra causa", disse Nunes.

O diretor salientou ainda que a unidade e seus profissionais utilizaram as técnicas disponíveis para tentar salvar a vida do paciente e que ele só foi encaminhado à Casa do Índio por faltar leito no hospital, uma vez que Sulivan reclamava do incômodo de estar deitado em uma maca. "Lá na Casa do Índio ele tem rede e todo o conforto de uma aldeia", afirmou.

José Nunes disse ainda que o incentivo de cerca de R$ 30 mil nunca foi enviado diretamente para o HRSB e que após o laudo cadavérico será realmente conhecida qual a causa mortis do indígena.

Mesmo com a afirmação do diretor de que o corpo de Sulivam Ferreira teria sido enviado para o Instituto Médico Legal (IML) às 11h, a equipe de reportagem da Folha foi ao necrotério do PS por volta das 17h45 e o cadáver ainda estava lá.

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