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Funasa aponta crianças índias com desnutrição grave

Jornal do Brasil-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Arnor Ribeiro
20 de Abr de 2003

Problema afeta 1.379 menores de cinco anos nas aldeias do Mato Grosso do Sul

A rica atividade agrícola de Mato Grosso do Sul contrasta com um dos principais problemas sociais do Estado: a insuficiência de alimento para os índios. Em 2001 e 2002, nas comunidades mais carentes, foram registradas, respectivamente, 18 e 14 mortes por desnutrição em crianças indígenas com menos de cinco anos de idade. Este ano, de janeiro a fevereiro, houve 24 óbitos, dos quais três por desnutrição.

O coeficiente de mortalidade infantil nas 58 aldeias do Estado chega a 62,7 por mil nascidas, quase o dobro do resto do Brasil, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 31,8. Com base nesses índices, o ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano, assinou, em Dourados (sul do Estado) um convênio que prevê a liberação de R$ 5 milhões para agricultura de subsistência, criação de animais e outras atividades nas áreas indígenas.

A ajuda aos indígenas é complementar ao Programa de Segurança Alimentar, através do qual estão sendo distribuídas cestas de alimento, que têm ajudado a reduzir a desnutrição. Mesmo com o índice apontado pelo IBGE, o ministro Graziano acredita que houve queda na mortalidade indígena infantil em Mato Grosso do Sul. Segundo ele, o número de óbitos por mil nascidos caiu de 140 para 40.

O objetivo do convênio é amenizar uma grave situação que perdura há décadas. No último levantamento realizado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), através do Distrito Sanitário Especial Indígena, e consolidado em fevereiro, há 1.379 crianças índias no Estado, com idades abaixo de cinco anos, em situação de desnutrição severa - 17% de um total de 7.943 pesadas.

Caso não haja intervenção nutricional de emergência até os cinco anos de idade, as crianças com grave desnutrição, que não morrerem, chegarão à fase adulta com desempenho físico e intelectual abaixo do normal.

- É um quadro alarmante, que requer intervenção imediata - avaliou a nutricionista Sheila Gomes do Prado, coordenadora do Programa de Vigilância Nutricional da Funasa em Mato Grosso do Sul.

A população indígena do Sul do Estado é a mais prejudicada. No município de Amambaí, das 1.195 crianças pesadas, mais de 30% (385) estão com desnutrição grave. Em Dourados, considerado o maior produtor de grãos de Mato Grosso do Sul, 319 crianças indígenas estão com desnutrição severa, num total de 1.886 monitoradas.

O principal problema enfrentado pelos índios da Reserva de Dourados - das tribos caiuá, guarani e terena - é a falta de terra. São nove mil pessoas vivendo em 3,6 mil hectares. Segundo o terena David Massi de Morais, os índios que estão em pior situação são os guarani e caiuá. No mesmo município, outro grupo de índios aguarda a retirada de colonos de uma área de 1.248 hectares considerados pela União como terras indígenas. Dessa área, 60 hectares (aldeia Panambizinho) foram ocupados por 62 famílias de índios, que vivem espremidas.

- Já ganhamos a demarcação - lembra o professor Arnaldo Jorge, índio caiuá.

De acordo com o censo 2000, do IBGE, em Mato Grosso do Sul vivem 53,9 mil índios de sete etnias: terena, guarani, caiuá, kadiwéu, kiniquinawa, ofayé e guató. Desse total, segundo dados da Funasa, 42,098 mil moram em aldeias rurais. O restante são indígenas sem aldeias ou que vivem em aldeias urbanas.

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